07 novembro, 2010

A Banda em Fuga!


Sim, teoricamente, eu escrevo para este blog! O Matheus me incluiu na lista dos autores, mas até hoje eu nunca havia colaborado com nada... até hoje. Não é por acaso que minha primeira contribuição seja uma aventura no campo da crítica de rock; afinal, o jornalismo musical foi meu sonho de consumo, em termos profissionais, durante boa parte da minha adolescência.

O que isso interessa? Não muito. Ainda assim, como gastei uns minutos escrevendo sobre um disco clássico do Paul McCartney, decidi subir o texto pra cá. Então, com vocês, "A Banda em Fuga". ;)


Novembro de 2010. Os beatlemaníacos estão todos eufóricos, com a proximidade dos shows do Paul McCartney no Brasil. Eu estou. Com esse clima de euforia, as reações mais típicas dos fãs, é claro, é a defesa da importância de Sir Paul McCartney (ou, para quem é fã de verdade, me disseram, apenas “Paul”) para a música pop do século XX. Membro de uma das mais conhecidas e influentes bandas de rock de todos os tempos, compositor milionário com sucesso comercial imbatível, recordista disso e daquilo. Para seus detratores, ele é a representação encarnada de tudo que é brega e cafona. Um dinossauro, um velhote que deveria ter se aposentado há tempos.

Acho uma besteira ficar defendendo alguém que realmente não precisa da meu apoio; um atualmente ancião que já entrou para a História antes de ter a idade que eu tenho. Gostando ou não da obra dos Beatles, é preciso reconhecer que antes de fazer trinta anos, McCartney já tinha feito tudo e mais um pouco, ajudando a redefinir o rock e o pop. Portanto, sem mais comentários sobre o homem. A música é o ponto aqui.

Após o término dos Beatles, McCartney lançou alguns singles memoráveis (Maybe I’m Amazed, por exemplo) e alguns discos medianos. Os discos McCartney, de 1970, e Ram, de 71, compreensivamente pairavam em algum lugar entre o som dos Beatles e uma tentativa de encontrar uma identidade musical mais pessoal. Algo estava faltando.

Macca, então, construiu em torno de si uma nova banda, o Wings. Linda McCartney estava ali, convertida de fotógrafa de celebridades em tecladista; Denny Laine, ex-guitarrista do Moody Blues também. Em torno desse núcleo, orbitava uma formação pouco estável de músicos talentosos, mas ainda assim o conjunto todo demorou para atingir a maturidade e identidade suficientes para espantar o fantasma do Fab Four. Mesmo Live and Let Die, rockão da trilha sonora do filme homônimo da série James Bond, ainda contava com a presença do quinto Beatle George Martin na produção.

Band on the Run, disco de 1973, relançado muitas vezes e em versão remasterizada neste ano, marcou a criação de uma identidade sonora e conceitual para a nova banda de McCartney. Musicalmente, é o retrato de um McCartney seguro de sua identidade pós-Beatles. Como todo bom disco de McCartney, tem ótimas canções, apoiadas em um e outro “filler”, meio bobo e descartável. Faixas como Bluebird e Mamunia hoje soam ultrapassadas e ingênuas. Band on the Run, porém, está baseado numa trinca matadora - a faixa-título, Jet e Nineteen Hundred and Eighty Five - que por si só já valem a audição. E ainda assim, vale lembrar, o panorama formado pela conjunto e ordenação das faixas mantém uma vitalidade insuspeita.




Curiosamente, o ápice do Wings surgiu de sua desconstrução. A aura e o apelo de Band on the Run devem muito também aos curiosos detalhes de sua gravação: a banda fugiu, sim! Fugiu de Paul McCartney que excentricamente (e antecipando a febre posterior da world music?) decidiu realizar a gravação em Lagos, na Nigéria. Henry McCullough e Denny Seiwell, guitarrista-solo e baterista, não se animaram com a perspectiva da viagem africana de McCartney e, segundo a lenda, abandonaram a banda no aeroporto. Com isso, restaram Paul, Linda e Denny Laine, em uma viagem exótica para a África, com o engenheiro Geoff Emerick a tiracolo.

Os estúdios da EMI em Lagos eram precários, para dizer o mínimo. Mesas de oito canais apenas e nenhuma adaptação para a gravação dos vocais (McCatrney sempre afirma que teve que instruir a gerência do estúdio sobre o processo de construção de uma vocal booth). Se o clima não era o esperado pelos gringos - eles aportaram na Nigéria em setembro, na estação de chuvas - a recepção dos nigerianos também não foi nada calorosa: McCartney e sua trupe foram assaltados, perdendo fitas com horas e horas de gravação, e ameaçados na base da faca por músicos locais, receosos de que os ingleses fossem plagiar produções locais, sem o devido pagamento de royalties. Sem dúvidas, as circunstâncias desastrosas das gravações concedem ao produto final uma identidade comparável com outras grandes obras do rock: Sgt. Peppers, The Dark Side of the Moon (Pink Floyd), Exile on Main St. (Rolling Stones), ou o inacabado Smile (Beach Boys). Junto com a música, fica uma história.

A influência regional procurada por McCartney, no entanto, aparece apenas levemente, em faixas como Bluebird, Mamunia e Mrs. Vandebilt, carregadas de percussão. O restante do disco é tipicamente inglês, algumas vezes rock’n’roll - Let Me Roll It e No Words - e algumas vezes grandiloqüente e orquestral (destaque para a faixa final, e para as delicadas clarinetas de Picasso’s Last Words) Obviamente, as orquestrações, a cargo do tradicional parceiro de David Bowie, Tony Visconti, foram realizadas posteriormente, com a banda já de volta à Inglaterra.

Também de volta à terra da Rainha, o toque final para a criação de um disco clássico: a capa. Nela, Paul, Linda e Denny aparecem em uniformes de presidiários, iluminados como se estivessem em fuga, acompanhados de um casting de celebridades, como os atores James Coburn e Christopher Lee.

O resultado disso tudo? O disco vendeu como água e garantiu, de uma vez por todas, a identidade dos Wings como sendo não uma cópia dos Beatles, mas a nova empreitada do sabidamente egocêntrico e perfeccionista Paul McCartney. É fato que algumas das canções não envelheceram bem, mas o conjunto da obra compensa: já na abertura, com a dobradinha Band on the Run e Jet, o Wings estabelece uma gramática que segue pelo disco inteiro. Oscilando entre o acústico e percussivo, mas pegando forte nas guitarras e nos sintetizadores, Band on the Run me parece um bom retrato musical de sua época - e, desta maneira, historicamente relevante, mesmo quando ultrapassado.

Além das tradicionais e competentes linhas de baixo e solos de guitarra, McCartney demonstra como nunca sua identidade como baterista: se em Back in the USSR e Dear Prudence ele emulou Ringo Starr, em Band on the Run, os contratempos e viradas, e a ausência da presença normativa de um produtor, revelam um estilo próprio. Por fim, o já conhecido pianista McCartney ressurge com força total na última faixa do disco, Nineteen Hundred and Eighty Five. Nela, num clima proto-disco, McCartney e o Wings afastam-se, definitivamente, da idéia de um substituto incompleto dos Beatles. Band on the Run tinha vida própria.

Nos shows brasileiros do Paul, ainda que a euforia dos fãs talvez seja aplacada apenas com os sucessos dos Beatles, certamente eu vou esperar ansioso por uma, duas ou três músicas de Band on the Run, para alguns críticos (e para este crítico amador) um dos melhores discos daqueles quatro senhores que fizeram parte dos Beatles.

Jet!




26 outubro, 2010

Polícia no campus da Unicamp, de novo....


Esses dias, li essa notícia:


Logo depois, recebi essa nota num e-mail:
No fim da tarde desta sexta-feira feira, 22/10, membros do CAECO e da ATLÉTICA foram procurados pelo Orlando, nas escadarias do Instituto, que, sob o pretexto de manter contato, pediu uma relação de nomes e emails dos integrantes dessas instituições. Além disso, pediu nomes de membros da gestão passada de ambas.

Após conseguir o que queria, ele revelou para os alunos que a situação, na verdade, se tratava da reabertura de um inquérito policial para apurar uma denuncia de barulho após as 22h, feita pela procuradora da UNICAMP em novembro de 2009, por conta do suposto encontro de baterias no ano passado. A referida procuradora dirigiu sua denúncia contra responsáveis que ela identificou através de um cartaz entregue ao delegado de Barão Geraldo: IE, FCM, IA, IFCH e Engenharias. Isso gerou um trâmite similar na diretoria de cada Instituto e Faculdade.

O processo que chegou às mãos da direção do IE continha três documentos (anexados). O primeiro registrava a denúncia da procuradora junto à delegacia de Barão. O segundo trazia um pedido do delegado para que a reitoria da Unicamp informasse à polícia os nomes de possíveis envolvidos no tal encontro. Numa terceira folha a reitoria exigia, com prazo de cinco dias corridos, que o diretor do Instituto entregasse os nomes de quem ela julgava, à priori, possíveis responsáveis pelo evento: a gestão do centro acadêmico. Esta última datava do dia 20/10, 4a-feira.

Notem que a reitoria pediu ao diretor Mariano Laplane nomes dos membros atuais do CAECO. Mas ele sabia que: a) a bateria era da Atlética e não do CAECO; b) Que se tratava de algo relacionado à gestão passada e não da atual. Por livre iniciativa ele foi atrás de quem julgou serem os responsáveis.

Fomos informados pelos próprios professores que alunos da gestão passada da Atlética e possivelmente do CAECO receberam emails convocando-os para uma reunião na segunda-feira (25/10). Assumimos que seja de manhã porque à tarde, 14h30, ocorrerá a reunião da Congregação, presidida pelo Diretor.

A direção tem nomes da gestão passada da Atlética e do CAECO. Os alunos estão sendo perseguidos de duas maneiras: a) Judicialmente, pela polícia, por causa do barulho após as 22h00; b) Disciplinarmente, pela reitoria, pela venda de bebidas alcoólicas no campus e organização de festa fora dos regulamentos colocados pela universidade. Portanto, os alunos considerados envolvidos poderão ser jubilados, além de ter de responder criminalmente.

O que se passa é que a Associação dos Moradores (AMOC) têm se esforçado para transformar Barão Geraldo num bairro pacato para ser uma boa área de expansão imobiliária para grandes condomínios. Esse esforço passa por disciplinar a UNICAMP e transformar a universidade em um colégio, reprimindo qualquer manifestação cultural, desde a festa do Festival de Artes do IA até encontros de baterias. Não se nega que a reitoria receba pressões externas, contudo, inegavelmente ela lançou mão de uma agenda própria para coibir esses espaços no campus, implantando um projeto específico de universidade.

Agora as coisas estão se resolvendo pelo caminho de menor resistência, ao invés da reitoria enfrentar a especulação da AMOC, sai à caça de estudantes que não fizeram nada mais do que ocupar o espaço público com o qual eles estão envolvidos em prol de manifestações culturais e comunitárias.

A direção do Instituto é declaradamente contra as iniciativas dos estudantes. O vice, Cláudio Maciel, era chefe da comissão da reitoria para apurar e punir estudantes organizadores de eventos. O diretor Mariano Laplane fez considerações sobre as festas no campus, declarando-se abertamente contrário. Também disse não entender porque estudantes se posicionariam contrariamente ao democrático estado de direito brasileiro e sua polícia para defender o direito de “fazer barulho”.

A gestão do atual reitor, Prof. Fernando Costa, é muito mais truculenta que a de seus antecessores. Na noite de quinta feira, ao mesmo tempo em que a polícia invadia o campus para dissolver uma festa, PM’s invadiam residências da Moradia Estudantil sem mandato, na calada da noite.

Pra completar li comentários sobre essas notícias, vindo de amigos que respeito, dizendo que está certo. E que a polícia tinha mais é que bater nos estudantes.. 

Polícia no campus

Fico triste... parece que não temos muita memória, que esquecemos tudo que aconteceu durante a ditadura, por exemplo... 

Isso partindo para uma discussão mais sutil: a presença da polícia num campus universitário, com intuito de coibir manifestações sociais/culturais. Cara, que absurdo uma coisa dessas... ainda se a desculpa fosse coibir assaltos e/ou estupros eu levaria com um pouco menos de ceticismo (embora ainda não concorde, por motivos mais filosóficos).

Me lembrou de uma viagem que tive um tempo atrás: ao visitar o presídio na Ilha Grande, em Angra, estava tudo destruido. Depois, visitei os campos de concentração na Polônia e estavam preservados. Mas era um clima tenso, pesado... Fiquei me perguntando porque mantiveram "aquilo". Na saída vi a resposta numa placa: "Aqueles que não aprendem com seu passado estão condenados a vivê-lo novamente".

Não sei quanto a vocês mas eu conheço pessoalmente pessoas torturadas e tals pela ditadura. E lembro-me vagamente dos movimentos de diretas já... 

Quer dizer, não é uma coisa tão longe assim. É que preferimos esquecer mesmo...

Barão Geraldo

Mas o foco principal desse post é mais específico, num to a fim de discussões intermináveis quanto a independencia cultural de uma universidade... Queria refletir um pouco sobre alguns pontos mais específicos e próximos.

Nesse sentido, o legal é que pra fazer inquérito contra estudantes tocando bateria dentro de uma faculdade, ou sobre estudantes de artes fazerem um festival de artes, tem polícia sobrando. Inclusive, continuar investigando hoje pra punir alguns estudantes que tocaram bateria dentro da faculdade depois das 10 da noite em 2009!

Quando eu ainda morava em Barão e alguém invadiu minha casa pra olhar pela janela do quarto de minha irmã, a resposta foi: "Quem manda morar com mulheres? Eles vêm ver mesmo, não temos pessoal pra resolver isso e fazer BO dá muito trabalho" Tempos depois ficamos sabendo de estupros... Será que com os anos, os bandidos não aprenderam que poderiam entrar, em vez de só espreitar pela janela, já que a polícia não viria mesmo?

Ou quando fomos assaltados e descobrimos ser a 17 república assaltada NAQUELE DIA, a resposta: "Não temos o que fazer, nem homens pra isso" Que tal passar um rádio com a descrição do carro e dos bandidos? Ou é pedir muito? Um BOzinho só pra constar, mataria alguém? Mas não, dá muito trabalho...

Claro que na semana seguinte assaltaram o dono da Frutaria (estabelecimento comercial tradicional do bairro e provavelmente com seguro) e em menos de 5 minutos tinham vários camburões e 2 helicópteros rodando o bairro... Apesar de que a maioria dos moradores não estudantes e membros da AMOC pagam sua miliciazinha armada particular, então nem precisam tanto assim da polícia. 

Mesmo essa cruzada da AMOC contra estudantes parece não se lembrar do passado. O que seria de Barão Geraldo sem a Unicamp? Alguém lembra?

E o que me entristeceu, na verdade, é que tem gente que ainda acha normal: vamos lá, acabemos com as festas, com os festivais, com as músicas, com as baterias... Paguemos nossas milícias pra nos proteger já que temos dinheiro pra isso. E paguemos os seguros, da casa e do carro, já que temos dinheiro pra isso. Os outros que se fodam. E torçamos pra que a próxima notícia de estupro não envolva nossa familia (porque dai teremos o trabalho de termos que nos revoltar com a situação). 

E fiquemos trancados em casa vendo novela (isso é, se ainda surgirem atores pra gerações futuras, talvez surjam desde que ensaiem bem quietinhos e fora das faculdades).






08 setembro, 2010

No goats, no glory


Mais uma dica de algo que achei meio aleatoriamente e curti bastante. Como pelo menos pra mim era desconhecido, acho que vale deixar a dica...

Passando pela locadora no feriadão (depois de muito problema pra estacionar) deparei com um filme chamado “Os Homens Que Encaravam Cabras”. Achei bem curioso o título e mais ainda o elenco: Jeff Bridges, George Clooney, Kevin Spacey, Ewan McGregor ... e... a cabra.

Enfim... é uma comédia criativa, com algumas várias referências à cultura pop cinematográfica: flerta bastante com o Dr. Fantástico, com o Star Wars (especialmente com o fato do MacGregor ser um Jedi),  o personagem do Bridges me lembrou muito seu personagem em O Grande Lebowski... Ahh, claro, eles citam o famoso Dim Mak, o toque da morte, do Grande Dragão Branco (mas nesse filme o golpe tem um mecanismo de funcionamento deveras interessante), e por ai vai...

O enredo mostra um jornalista atrás de uma história (e, mais do que isso, buscando uma motivação ou sentido pra sua vida) e acaba descobrindo alguns soldados remanescentes de uma experiência do exercito norte americano. A "experiência" consistiu em treinar/utilizar soldados com poderes paranormais. Aliás, a explicação sobre o porquê dessas pesquisas com o paranormal é divertida (e meio sarcástica). Esses soldados fazem coisas como: visão remota, atravessar paredes, dissipar nuvens, e... matar cabras com um olhar

A história é contada em flashacks dos anos 80, mostrando o treinamento desses super-soldados, com passagens no Iraque de “hoje”. Os flashbacks são a melhor parte do filme.
 
Várias críticas à guerra e à “condição humana”... No filme, por exemplo, é meio que fato consumado que os Estados Unidos tem a obrigação moral e quase divina de salvar o mundo, nem que pra isso use seu exército.
 

Como disse antes, gostei bastante dos flashbacks,  principalmente se encarados meio que como esquetes individuais. Do meio pro fim a amarração se perde um pouquinho, sei lá... Mas não compromete. Principalmente por ser um pouco diferente e bem feitinho já vale a pena.

Lendo na net depois, achei algo curioso: diz o Cloney em algumas entrevistas que grande parte do filme é baseada em fatos reais, especialmente as partes mais esdrúxulas. Será que o exército tentava matar cabras com encaradas??

30 julho, 2010

Bang Bang, Faroeste, etc e tal

Listas, mais listas (será que rola uma lista de listas?)

Pra quem quiser fazer um catch up com os clássicos do western:
Era Uma Vez no Oeste (Sergio Leone, 1969)
Três Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966)
Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)
Meu Ódio Será Sua Herança (Sam Peckinpah, 1969)
Sete Homens e um Destino (John Sturges, 1960)
Butch Cassidy (George Roy Hill, 1969)
O Homem que Matou o Facínora (John Ford, 1962)
Por uns Dólares a Mais (Sergio Leone, 1965)
Por um Punhado de Dólares (Sergio Leone, 1964)
Os Invencívies (Ji-woon Kim, 2008)
Os Indomáveis (James Mangold, 2007)

21 julho, 2010

Filme do Tio Mário: O Espírito da Coméia

Lá vai o Filme do Tio Mário da semana. Quem num sabe o que é um "Filme do Tio Mário", por favor leia a intro desse post.

O Espírito da Colméia
Aproveitando os auspícios da Semana da Criança e ainda sob os eflúvios do nascimento do meu segundo filho, não poderia deixar de citar o meu filme favorito contando com crianças como protagonistas. E olhem que a concorrência é  braba: de "O Garoto" a "Sexto Sentido", passando por "ET", a lista é imensurável. Mas este "O Espírito da Colméia" (Victor Erice, Espanha, 1973) é realmente genial.

Erice é, como J. D. Salinger e Raduan Nassar na literatura, ou Terence Malick e Kubrick (este na segunda fase da carreira) no cinema, um diretor nada prolífico. Em 35 anos, dirigiu apenas 3 longas, mais 3 episódios em filmes multidirigidos.

"O Espírito da Colméia" resumidamente é isso: numa pequena vila na Espanha franquista de 1940, enquanto seu pai estuda o comportamento das abelhas em uma colméia e sua mãe escreve cartas para um destinatário inexistente (ou seja, o ambiente doméstico não era lá grande coisa), Ana e Isabel vão assistir ao Frankenstein, de James Whale (grande clássico do horror com Boris Karloff) em um cinema móvel (tipo circo, mesmo) que visitava a vila. Embora não tenham entendido direito ao filme, as meninas (que devem ter entre 6 e 8 anos) ficam muito impressionadas com a cena em que o monstro dá uma flor a uma menina. Isabel, a irmã mais velha, diz a Ana que o monstro (Frankenstein) efetivamente existe na forma de um espírito que não pode ser visto, a não ser que se conheça o modo correto de se aproximar dele. Ana começa então sua busca pela gentil criatura nos arredores da vila, só que, ao invés dele, encontra um desertor do exército escondido em um celeiro. Ana decide então ajudá-lo, alimentando-o e vestindo-o, julgando que o forasteiro seja de fato o "espírito".

Ana Torrent, que interpreta Ana, depois, ainda criança, fez dois belos filmes com Carlos Saura ("Cria Cuervos" e "Elisa, Vida Minha"). Quando criança, foi uma atriz absolutamente comovente. Recentemente pude assisti-la protagonizando "Thesis - Morte ao Vivo", do Amenabar. Ela até que foi muito bem, mas certas atrizes simplesmente não deveriam crescer...

Um filme maravilhoso, próximo da perfeição, completamente poético e, imagino, dificílimo de encontrar. Visto no Carbono 14, antigo reduto underground de São Paulo, nos anos 80. 

14 julho, 2010

Filme do Tio Mário: Malpertuis

Lá vai o Filme do Tio Mário da semana. Quem num sabe o que é um "Filme do Tio Mário", por favor leia a intro desse post.
O Cineclube de Bexiga ficava na Rua Treze de Maio, em São Paulo. A "Treze" era a meca dos bichogrilos, roqueiros, alternativos, boêmios, enfim todas as tribos tinham seu espaço nessa pequena babel cultural de São Paulo nos anos 80. Mas o principal, pelo menos prá mim, era o cineclube. Pequeno, acanhado, com somente um antigo projetor que obrigava a um intervalo forçado para troca de rolos no decorrer da sessão, foi um dos locais que me deram a chance de descobrir a Nouvelle Vague, Bergman, Neo-Realismo, etc.

O cineclube tinha um livro de visitas, onde os freqüentadores escreviam de tudo: poemas, críticas e principalmente, pedidos de filmes. O nome "Malpertuis" enchia páginas e páginas. Parece que quem tinha visto o troço nos anos 70 - aparentemente houve uma exibição do filme em alguma mostra ou ciclo especial - não esquecia. Eu, tomando meu café (é, o cineclube tinha um minúsculo coffee bar), ficava folheando este livro e morrendo de curiosidade para assistir o tal do Malpertuis (França/Bélgica/Alemanha, Harry Kümel, 1972). Numa próxima vez volto a falar do cineclube.

A oportunidade aconteceu na  9a Mostra de Cinema de São Paulo, em 1985. Lá estava ele, programado...e lá fui eu, assisti-lo. Prá início de conversa, existem diversas versões do filme. A última, restaurada pelo diretor e exibida em 2002 na Europa, é totalmente falada em flamengo, ao que parece o idioma original do filme (o diretor é belga). A que assisti no cinema, se bem me recordo, era falada em francês, com legendas em espanhol. Mas existem versões reduzidas, ampliadas, dubladas em inglês, alemão ou holandês - o que sem dúvida só contribui para aumentar o caráter cult do filme.

A trama é essa: Malpertuis é um castelo "assombrado", labiríntico e inescapável para quem o habita. Cassave (Orson Welles, excelente e completamente preguiçoso) está em seu leito de morte e deixa em testamento uma fortuna considerável para seus herdeiros, os quais devem por contrato viver até o final de seus dias em Malpertuis. Jan, um sobrinho de Cassave recém-chegado ao castelo, constata a estranheza dos tipos que compõe sua "família" - mistérios que serão revelados ao final da epopéia (aliás é um final daqueles reveladores e apoteóticos).

Os principais elementos utilizados pelo diretor são a composição surrealista e a mitologia grega, temas caraterísticos de Jean Ray (também belga, assim como o diretor Kümel), um dos melhores escritores europeus de literatura fantástica. Na minha impressão, um filme exemplar, de visual belíssimo e inventividade assombrosa, marcas do diretor Kümel, de quem depois acabei assistindo o anterior "Lábios de Sangue" (também chamado no Brasil de "As Escravas do Desejo" - Les Rouges aux Lèvres, Bélgica/França/Alemanha, 1971), também excelente e sobre...vampiras !!! Mas esse fica prá outro dia...

Uma boa notícia é que, com uma boa garimpagem, pode-se conseguir o VHS nas locadoras. Foi lançado como "Malpertuis - Estranhas Fantasias", acredito que pela Globo Vídeo. Boa sorte !!!!

[Math, de novo] Relendo essa dica hoje, lembrei que agora tenho o "As Escravas do Desejo"  (Les Rouges aux Lèvres) também citado acima. Tá guardado, ainda não assisti. Baixei numa leva de filmes de vampiras que peguei uma vez. Agora vai ganhar prioridade na minha fila dos a ver

06 julho, 2010

Filme do Tio Mário: O Quarto Homem

Lá vai o Filme do Tio Mário da semana. Quem num sabe o que é um "Filme do Tio Mário", por favor leia a intro desse post.



Engraçado, este filme foi o maior hype da 8a Mostra de Cinema de SP (em 1984, quando tive a oportunidade de assistir), e nunca foi lançado comercialmente no país. Soube que, em outubro de 2004, o Carlos Reichenbach promoveu uma sessão deste filme no CineSesc (não me perguntem como ele arrumou esta cópia, com legendas em inglês - deve ser a mesma que exibiram em 1984 !!!) e quem sabe alguns de vocês de Sampa e arredores tiveram a chance de ver.

Mas voltando à vaca fria, "O Quarto Homem" (De Vierde Man, Holanda, 1983) é o sexto longa do diretor Paul Verhoeven (antes já tinha feito por exemplo os elogiados "O Soldado de Laranja" e "Spetters" - se não me engano o Gilmar da lista assistiu este último e pode dar seu pitaco), que depois se bandeou para os States e fez coisas bem legais como "Robocop", "Instinto Selvagem" e "Total Recall" e também algumas cacas como "Showgirls".

A história é basicamente essa:  Gerard (Jeroen Krabbé) é um controverso escritor homossexual, católico e alcoólatra. Ao romper brutalmente com seu jovem amante, entra em crise e começa a ter constantes alucinações de ordem mística e ultrajante, referentes ao seu catolicismo. Ao ser convidado para proferir uma palestra em uma pequena estância balneária, acaba sendo seduzido pela cabeleireira Christine (Renée Soutendijk), uma estranha e sensual viúva, suspeita de ter assassinado os três maridos anteriores. Gerard se descobre mergulhado num pesadelo de blasfêmias e ambíguos desejos homoeróticos.

Bem, essa foi uma sinopse adaptada do Reichenbach. O filme é beeeem mais que isso, possui toda uma atmosfera de mistério e sensualidade. Tem um clima estranho, gótico, misturando thriller, drama, comédia. O roteiro é muito original, privilegiando o misterioso passado de Christine e o atribulado presente de Gerard. O erotismo é intenso e as cenas de delírio de Gerard são completamente antológicas.

Assim como o "Basket Case", da semana passada, quem puder me arrumar uma cópia deste filme eu agradeceria muito.

30 junho, 2010

Filmes do Tio Mário:: Basket Case


Hoje, como tô sem criatividade (na verdade paciência) pra escrever, resolvi começar uma nova tag aqui no blog. Filmes do Tio Mário.

A idéia é: na falta de criação minha, copio mesmo. E resolvi compartilhar uma série de e-mails enviados pelo Mário (tem link pro blog dele ali no canto inferior direito, chamado franciscon - MKO) pra uma lista de amigos cinéfilos virtuais (alguns reais) que surgiu ai no yahoogroups depois de uma série de coincidências. Lista essa que gerou amigos mesmo, no real sentido da palavra, embora eu não tenha conhecido a galera pessoalmente, e que me fez conhecer muito mais do que conhecia antes de cinema. O Tio Mário é um dos fundadores da dita lista, e uma das opiniões que mais respeito hoje em dia no assunto. Se não a que mais respeito.

Sem mais delongas, abaixo a cópia do primeiro e-mail da série Filmes do Tio Mário.

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Peço licença para iniciar uma pequena "coluna" semanal sobre alguns filmes que vi (e que poucos de vocês, mais jovens que meus 41, devem ter visto). Vou pautar mais sobre filmes independentes, ou sobre clássicos pouco conhecidos, ou sobre o cinema europeu mais obscuro. Em geral foram assistidos em VHS, televisão, mostras, cineclubes e até em circuito comercial.

O objetivo é divulgar obras pouco conhecidas que acabei assistindo, e não esquecendo (com a ajuda da Internet, fica mais fácil refrescar a memória). Com a facilidade hoje dos torrents, bitorrents, etc. (não entendo nada disso, sou do tempo do projetor de 16 mm, com a película do filme queimando no meio da projeção...), quem sabe os mais ousados se aventurem a procurar na net, ou a garimpar em videolocadoras e nos canais por assinatura, se houver interesse, claro.

Basket Case

O primeiro filme que escolhi é um pequeno clássico da bizarrice universal, Basket Case (Frank Henenlotter, EUA, 1982). Poderia ser até classificado como um "terrir", mas o filme é tão, tão absurdo, que as risadas, no meu caso, saíram bem amarelas.

O clima "gore" é criado a partir do seguinte enredo: um cara chega a um hotel em Nova York povoado por todo o tipo de gente da pior espécie. Ele não se desgruda de uma enorme cesta (que dá o título ao filme) e a leva por toda a parte, enchendo-a de fast food o tempo todo.

Todos ficam intrigados até que vem a explicação: o cara carrega na cesta seu irmão siamês (um troço meio mutante, anãozinho), separado dele por cirurgia, o qual é violento e quer se vingar de qualquer jeito dos médicos que os separaram. Os irmãos acabam se apaixonando pela mesma garota, o que gera situações hilárias.

O filme teve duas seqüências igualmente toscas. Entretanto é  extremamente criativo, de orçamento baixíssimo e dispensa efeitos especiais. Talvez tenha sido "eclipsado" pelo lançamento, no mesmo ano, de "Evil Dead" (rsrsrsrsrsrsrs).
 

Visto na 9a Mostra de Cinema de SP - 1985.




23 maio, 2010

Na onda do Lost, seria o Brasil uma ilha?


Durante minhas mochiladas pela zoropa conheci muitos europeus que gostam bastante de viajar... Trocando e-mails durante esses anos todos, fui vendo que quando vêm pra América pulam o Brasil devido a nossos preços (viajar aqui é bem caro)...

Além disso, e mais importante pra esse post, é que os caras conheciam mais o Brasil do que eu conhecia cada país. No fundo, o que sabemos de Turquia, Grécia, Sérvia, Polônia... etc, etc? Eles conheciam tanto história quanto nossa cultura.

Não super a fundo, claro. Mas, por exemplo, não era difícil ouvir músicas brasileiras por lá.

Beleza, isso ficou na minha cabeça em stand by... Como conheciam sobre meu país, acho que passou despercebido. Meio que inconscientemente a gente acha que é obrigação deles.

Agora, mais recentemente, fui duas vezes pra Argentina e uma pro México. De novo, eles conheciam mais a gente do que eu acho que conhecemos eles. Eu, por exemplo, fiquei espantado ao descobrir que o voo pro México dura mais de 10 horas... Jurava que era perto ehehhe.

Ahh... pra viajar pro México fiz um intensivão de espanhol com uma colombiana, que não só conhecia o Brasil (nesse caso tudo bem, já que ela tá morando aqui) mas também conhecia bastante sobre os outros países latino americanos.

O ponto é: passando um pouco de tempo no México e na Argentina. Vendo sua TV, ouvindo suas rádios, conversando com seus taxistas, fui vendo que eles conhecem uma gama grande de cultura de outros países (principalmente os países hermanos latino americanos). As vezes tocavam músicas pelas quais eu me interessava e, ao perguntar, eu descobria que vinham da Colômbia, México, Venezuela, etc, etc e tal (inclusive do Brasil, mas dai eu não precisava perguntar rs). A TV têm os canais locais, os canais americanos (que assim como na nossa TV, são a maioria), um ou outro canal japonês, alemão, britânico e etc (assim como nossa TV a cabo) mas também tinha canais de outros países latino americanos. Inclusive nossa Globo. E eles assistiam.

No México, aliás, me parece que a cultura mexicana mesmo é bem mais vista do que a gente vê nossa própria. No sentido de que passam muitos filmes locais, e músicas locais. A impressão que me deu nesse pouquíssimo tempo é de que a gente vê muito mais coisa americana do que coisa local, em comparação com os mexicanos.

Dai me lembrei das minhas experiências na Europa (diga-se de passagem, por países fora do eixo turístico tradicional, então não sei se posso extrapolar minha experiência para todo o continente): os caras viam filmes de outros países, ouviam músicas, liam livros... conheciam um pouco sobre as línguas, sobre a história. Os rótulos dos produtos no supermercado eram quase sempre em várias línguas.

Eles sabiam dizer de onde vinha cada obra quando ouvíamos ou assistíamos algo...

Além do hábito de viajar: viajar parece mais comum, mais fácil. Cruzar uma fronteira não é o fim do mundo. E admira-se coisas de fora. Aqui, a impressão que tenho é de que sempre achamos que temos as melhores praias, as melhores mulheres, as melhores cervejas... não precisamos conhecer nada culturalmente novo... Por outro lado, quando temos um gringo, talvez por ser mais raro esse intercâmbio, pagamos pau. Tipo, não é uma coisa muito normal (afinal ele é gringo, wow!!!).

Pensando especificamente nos países latino americanos, poderíamos dizer que a barreira é linguística. Afinal, somos o único país falante de português, não seria fácil entender as coisas de nossos vizinhos.

Eu quase me convenci disso nas minhas divagações no voo de volta, mas depois veio a lembrança da Europa. O pessoal de língua eslava ouve nossas músicas normalmente, assim como outras. E ai, barreira linguística?

Será que não é algo além da língua? Será que não estamos mais propensos a nos fechar pro que vem de fora (exceto se fora significar Estados Unidos)? Ou será que o pessoal que eu conheci lá só conhece nossas coisas porque realmente somos muito melhores, e nesse caso nem precisamos conhecer mais nada?

Eu particularmente não acredito muito nessa superioridade.


Como já disse antes: conheço muitas pessoas e coisas incríveis lá fora, assim como aqui. E conheço coisa ruim lá fora, assim como aqui. Fronteiras são invenções políticas, mas o mundo é uma coisa só.

Partindo dessa premissa pessoal, acho que somos fechados mesmo, e não é culpa da língua.

Estou tentando corrigir isso de minha parte, principalmente através da música. Aliás, vou lá ouvir um sonzinho mexicano.

Hasta la vista!

(sem o baby, por favor)





21 maio, 2010

Google lança TV, ou: Sobre o big brother


Bacana. Mas, de certa forma, se eles quisessem poderiam saber o que temos assistido.
  
Falando em saberem o que fazemos, lembrei de uma notícia:

Carrinhos do Google Street View são pegos coletando dados pessoais de redes wifi enquanto tiram as fotos:
http://idgnow.uol.com.br/seguranca/2010/05/19/italia-franca-e-alemanha-investigarao-google-street-view/

Google diz que foi acidente e prometeu apagar tudo direitinho. Dada essa promessa, Inglaterra retirou queixas, Alemanha não e proibiu Street View até segunda ordem. isso me lembra também da própria, ficando bravinha com a China devido à invasão da privacidade deles.

E o Google Googles, viram? Muito louco
http://www.google.com/mobile/goggles/

Isso é massa, dará uma idéia de pra onde estamos olhando (literalmente, e em primeira pessoa).

Sem contar os Android com GPS e o Google Latitude mostrando onde estamos em tempo real.

Já falei das nossas listas de amizade no Orkut? Ou conversas no Gmail? E do tipo de buscas que fazemos?

A, claro, a cada dia mais e mais empresas usam "as nuvens" do Google docs pra guardar seus documentos de trabalho.

Ficam as perguntas,

- Porque, no filme, usaram o nome skynet?
- Quando aparece o primeiro T1000?
- Eu estar falando isso num site da Google vai fazer esse primeiro T1000 me caçar?

17 maio, 2010

A vida imita o vídeo? Ou: real versus idéia do real...


Esse é Quick topic, acho.

E a partir de uma reflexão antiga, apenas lembrei-me disso agora cedo, olhando a paisagem da sacada numa manhã fria. Sei lá por que...

Enfim, ano passado saiu o novo filme do José Mojica Marins (vulgo Zé do Caixão): Encarnação do Demônio. E esse filme teve uma boa recepção pela crítica tendo vencido pelo menos um festival como melhor filme.

Então, eu não assisti. Mas minha esposa assistiu e disse que ... (sim, era pra ser uma piada com o Silvio Santos). Voltando: eu não assisti, mas conversei com pessoas que assistiram. E não uma, nem duas, mas várias disseram que não entenderam o auê (ó o auê ai, ô) em torno do filme. Que é mal feito, não convence nada, ta na cara que é falso.

Ouvi até gente dizendo que filmes como “O Albergue” são muito mais “reais” ao mostrar as cenas violentas/fortes, ou outros filmes americanos.

Mas o ponto é: O Zé do Caixão usa cenas REAIS. A cena da piscina com baratas era realmente uma piscina com baratas (dizem que parte da equipe técnica nem participou da gravação, com medo). Pra cenas de cortes e ou body-suspension ele chamou masoquistas que realmente faziam aquilo por prazer e daí gravou.

Ou seja: o paradigma que algumas pessoas (pelo menos algumas poucas pessoas que conheço) usam como real, é aquilo que vêm dos filmes norte americanos. Tiros super barulhentos, carros explodindo, etc e tals...

Tudo bem, eu já sabia disso (acho que todos sabíamos):  

Que nossa cultura é muito influenciada pela TV/Cinema (nossa inclui eu mesmo, que fique bem claro), mas eu sempre pensei isso do ponto de vista ideológico.

Esse exemplo fez refletir que também do ponto de vista “físico”, palpável (nesse caso: como uma coisa se parece) temos pensado um pouco da maneira que Holllywood nos ensinou.



18 abril, 2010

Don't touch the tar baby



Rebatendo a buzinada da Vivi, pra reanimar os ânimos com a Disney (ou não).
Abaixo segue o link para o vídeo:

Aviso aos fracos: o caminho que segui para chegar a esse assunto é árduo e requer boas doses de falta de escrúpulo e noção do que é nojento ou não.

Finalmente consegui reservar um tempo para ver um filme, no mínimo estranho: Vase de Noces; aqui segue uma breve descrição (em inglês):

The film deals openly, and sometimes graphically, with bestiality, and is informally known as The Pig Fucking Movie. It also features real animal killings and coprophagia
Bom, mas onde está o assunto do post? (Tem a ver com o título)
Isso aconteceu após ver a seguinte frase no wikipedia "is one of the most obscure movies that is not a lost film"; e "Lost Film" tinha um artigo próprio, o qual decidi ler.
Na verdade, só dei uma lida por cima e achei um tal de Song of the South da Disney.

Após ouvir um pouco de Zip-a-Dee-Doo-Dah, resolvi ler sobre a origem da história do coelho. Bom, o Sr. Coelho (Br'er Rabbit) tem origens Africanas e Chrokee.
O que mais me chamou a atenção foram duas coisas:

"Many have suggested that the American incarnation, Br'er Rabbit, represents the enslaved African who uses his wits to overcome circumstances and to exact revenge on his adversaries, representing the white slave-owners. Though not always successful, his efforts made him a folk hero. However, the trickster is a multi-dimensional character. While he can be a hero, his amoral nature and lack of any positive restraint can make him a villain as well. For both Africans and African Americans, the animal trickster represents an extreme form of behavior which people may be forced to emulate in extreme circumstances in order to survive. The trickster is not to be admired in every situation; he is an example of what to do, but also an example of what not to do. The trickster's behavior can be summed up in the common African proverb: "It's trouble that makes the monkey chew on hot peppers." In other words, sometimes people must use extreme measures in extreme circumstances."


E a segunda é que um dos que escreveram suas histórias foi o tio do presidente Roosevelt.

Não quis entrar na demagogia a qual envolve o filme Song of the South, mas só quis lembrar que esses filminhos têm um bom conteúdo por trás da história. Até vou baixar e vê-lo não com os olhos de criança o qual tinha o visto anteriormente, pois uma análise crítica às vezes cai bem ;-)

Outra coisa, minha memória fez me lembrar que as traduções daquela época eram mais condizentes com a história do que atualmente, estou errado?


28 março, 2010

Darwinismo artístico


Esse vai ser pequeno, acho... e veio na onda do post anterior sobre preconceitos.

Ao escrever toda aquela papagaiada sobre preconceito e sobre não curtir muito os mainstreams, lembrei de outra discussão.

A maioria das coisas que tenho gravadas nos meus HDs ou que tenho como preferidas, concorrendo de perto com as trahsheiras  são os "clássicos", daqueles vistos como cabeções pela maioria. Tá bom, no caso de filmes, o trash ganha (mas não em músicas e livros).

Com isso, muitas vezes alguns amigos (um em especial) que são "contra" coisas novas - não exatamente contra, mas com aquela nostalgia de que "antes as coisas tinham muito mais qualidade" - falam comigo com uma espécie de cumplicidade, como se eu também fosse reacionário.  Mas eu não penso assim, e creio que não tenho muitos preconceitos quanto à novidades. Acho que tem muita coisa boa sendo feita, na verdade.

Darwinismo artístico

Então porque tenho mais clássicos entre meus preferidos e são a maioria na minha coleção? Acho que a resposta é meio que uma seleção natural a lá Darwin:

A quantidade de obras produzidas é gigantesca. E, hoje em dia, se não tem mais coisas sendo produzidas, pelo menos temos acesso a muito mais coisas. E vemos esse monte de obras sem perspectiva, as pérolas estão misturadas com o lixo.

Com o tempo, as mais fortes sobrevivem e acabam virando os clássicos pra novas gerações. Nesse contexto, quando olhamos para os clássicos estamos olhando pra um conjunto já selecionado pelo tempo. Lemos Shakespeare e adoramos, mas quantos outro escritores da época foram esquecidos? Ouvimos Beatles e adoramos (espero que você que está lendo, no mínimo goste dos Beatles senão iremos brigar heheh), mas quantas outras bandas morreram depois de um hit ou de um tempo no rádio?
 
Acho que a resposta está por ai... acredito que o futuro nos mostrará que tem muita coisa boa surgindo na nossa época.  Mas é preciso um certo esforço, e muita busca, e muito raciocínio crítico. e desprendimento da grande mídia, pra acharmos essas pérolas. Ainda mais sem ter a visão em perspectiva pra nos ajudar. De qualquer forma, é um exercício legal tentar procurar essas pérolas...

Não vi e não gostei, ou preconceito com o preconceito


Um dia desses, discutindo sobre cinema, eu disse que não iria ver determinado filme que está (estava) muito na moda. Continuando na discussão, assumi que não veria por preconceito mesmo. Minha experiência prévia com aquele diretor e com o cinemão blockbuster me dava dicas de que eu provavelmente passaria raiva por ter gastado a grana do cinema (que aliás, aqui em Campinas pelo menos, tá bem caro).

O preconceito com o preconceito.

A reação à essa confissão de fui preconceituoso não foi muito amigável... coisas do tipo "sua argumentação baseia numa crença e não no conhecimento",  "é irracional e por isso não dá para tentar argumentar com você", etc. 

Ouvi também críticas ao fato de eu assumidamente dar valor à opinião de terceiros ao escolher meus próximos filmes. Como se assumir que sou influenciado por outros fosse assumir que não tenho vontade própria. Não que eu acredite em tudo que leio/escuto, mas com o tempo fui me "sintonizando" com determinados críticos e/ou amigos e sei mais ou menos quem ouvir quando quero sugestão de uma nova obra. Inclusive no sentido inverso: às vezes faço questão de não assistir algo, dependendo de quem recomendou. No final, qual o ponto de estar numa lista de discussão sobre cinema se vou ignorar as discussões da própria lista?

Semana passada uma discussão na aula de inglês me fez retomar o tema aqui na minha cabeça.

E continuo assumindo que uso sim de preconceito em vários aspectos, principalmente quanto a filmes e livros.  

No fim, acredito que ao usar a palavra preconceito, por mais que eu tente esclarecer que quero com isso apenas assumir que o que me levou a determinada decisão foi um conceito formulado previamente, eu acabo trazendo outros valores pra discussão. 

Olhando no google bem por cima, vi apenas críticas ferrenhas à essa palavra, dai vir aqui hoje defender essa palavrinha indefesa :)

Acho que o valor etimologico dessa palavra está muito intimamente ligado ao conceito de discriminação racial nas nossas cabeças, e isso faz as pessoas se assustarem quando alguém assume o preconceito. 

Eu discordo totalmente que um conceito concebido previamente sobre algo esteja necessariamente longe do raciocinio e perto da crendice, como me foi dito naquela discussão sobre o filme que eu não veria. E também discordo de que não possa haver uma discussão baseada em lógica contra alguém que já tinha uma ideia prévia sobre o assunto.

Na verdade, todo o método cientifico é parecido com isso: você propõe uma tese, baseada na sua experiência passada, e passa a defendê-la frente a situações experimentais. Enquanto essa tese está valendo, você a utiliza como base pra contruir outros conhecimentos. Algum dia, descobre-se algo que fura essa tese, e você a aprimora. Pra ganhar um título acadêmico você inclusive tem que defender uma tese. Aristoteles já falava da "lógica do provável: o processo racional que não pode ser demonstrado", lá nos tempos aureos da Grécia.

Acho que a gente decide coisas baseados em preconceitos o tempo todo.  Sempre que existem opções excludentes, ou seja,  você tem que escolher uma opção em detrimento de outra (sem experimentá-las antes), você usou preconceito. Imagine-se com 2 propostas de emprego e só pode pegar uma. O que você faz? Decide pelo que ouviu falar, pelo que conhece das duas firmas, pela opinião dos outros. Pelo seu pre-conceito. E por ai vai, vamos julgando de acordo com aparência, modo de falar, modo de se vestir, influência da midia... O lance é ter mente aberta e ir refinando seus preconceitos com base nas suas experiências.

Os cabeça-duras

É claro que não concordo com os cabecas-duras, que depois que adquirem um conceito não querem mudar nem a pau. A dialética tá ai pra isso (olha a Grecia antiga de novo ai gente, pedante né?). De novo, o lance é ter mente aberta e ir refinando seus preconceitos com suas experiências...

O preconceito em épocas de super informação

Hoje em dia, com o acesso super rápido e praticamente ilimitado à informação, cada vez mais sinto necessidade de um filtro. 

Quando digo que não lerei O Monge e o Executivo, ou Quem Roubou Meu Queijo, ou que não assistirei a alguns dos candidatos ao Oscar, ou ao novo programa da Globo, não é que usarei esse tempo parado olhando pela janela, a questão é que tem muita coisa pra ser vista, ouvida, e lida, e linguas pra serem aprendidas, e por ai vai. E hoje é fácil conseguir essas coisas na net. Quem curte filmes clássicos, pro exemplo, dá uma olhada num fórum chamado "Making Of" (deve ter um link pro blog do Tio Mário ali no cantinho direito). 

No meu dia-a-dia vejo uns 10 episódios de séries por semana, vejo um filme a cada 2 ou 3 dias, leio um livro a cada uma ou duas semanas, além dos blogs, noticiários, buscas por novas músicas, etc...

E mesmo assim estou longe, muito longe, de assistir e ler tudo que quero. Acho que precisaria de algumas várias vidas pra terminar tudo heheheh. 

Ou seja, preciso filtrar. E vou continuar fazendo isso. Mesmo que signifique ficar um pouco alienado quanto aos Best Sellers, ou aos programas mais assistidos da TV, e coisas do gênero (depois de algumas décadas, meu preconceito mais forte acabou sendo quanto à unanimidades e preferências de público, que raramente me agradam quando abro a guarda e tento ver).

Vou perder alguma coisa boa no meio de tudo isso que estou filtrando? Claro, não tenho dúvidas disso, mas fazer o que...

Discriminação, generalizações e estereótipos

Muita calma nessa hora... Esse post é uma brincadeira com a palavra preconceito, que deu vontade de fazer depois da discussão lá na lista de cinema.

Muito cuidado com expandir essa brincadeira e assumir que eu defendo discriminações, generalizações superficiais, ou estereótipos. 

"todos os alemães são prepotentes", "todos os norte-americanos são arrogantes", "todos os ingleses são frios". Bullshit

Parto do principio de que meus preconceitos devem partir do relacionamento de conhecimentos obtidos em experiências prévias, de preferência minhas, com obras e/ou situações semelhantes.

Você é preconceituoso?

Finalmente, de minha parte: ao contrário do que ouço muito por ai, escuto sim opiniões dos outros, me influencio sim por elas, e uso de meu bom e velho preconceito de tempos em tempos .

09 março, 2010

Aliens malvados

Aloha!

Outro dia, ao escrever sobre Moon, comentei também que escreveria de novo ao descobrir outras pérolas do cinema e que não eram muito divulgadas.

 

A maneira de ter chegado nele foi diferente: ganhei uma promoção da Blockbuster online de 2 meses de locações gratuitas e entregues em casa. Dai pensei "O que me interessa numa Blockbuster?". Resolvi aproveitar que não iria me arrepender do dinheiro gasto e fiz uma experiência. Peguei ficção/terror e ordenei por mais alugados, dai fui pra última página pra ir pegando de trás pra frente.

Bom... é... quer dizer... nesse caso aqui a palavra pérola pode ser um pouco exagerada. Pelo menos pra maioria das pessoas.

Maaaas, se você tiver estômago e bom humor  (e uma quedinha por trash), anote ai uma boa dica: Evil Aliens. Pra quem conhece, digamos que lembra muito o divertido Fome Animal, do Peter "Senhor dos Anéis" Jackon.

Tem direito a duas protagonistas gostosas (uma dela com um generoso decote o filme todo), abdução alienígena, empalamentos, arrancada de cabeça com coluna e tudo (no melhor estilo Sub Zero Wins), referências a outros filmes pra alegrar os cinéfilos nerds de plantão, alienígenas bobões correndo de uma colheitadeira gigante, ingleses com seu sotaque zuando o sotaque do País da Gales (o filme é inglês), e muito, muito mais.

No começo (depois de dar risada da primeira cena, ou de ficar chocado pela primeira cena... ou ambos) a impressão que dá é que se está vendo um filme pornô. A "ótima" atuação, as roupas das meninas, e principalmente o estilo da filmagem relembram muito esse gênero. Dá a impressão que eles começarão a ...  a... ahhh vocês sabem... a qualquer momento. Mas depois a gente se esquece isso e se envolve na história que rende muito sangue e muita risada. E o roteiro, por incrível que pareça, dentro do universo trash e surreal que faz parte, é até amarradinho. Tipo uma casca de banana que cai num momento vai ter uso lá na frente.

All in all, acho que tô mais empolgado que o necessário devido à grata surpresa, já que não esperava nada. 


Claro que no final não é uma obra de arte, mas recomendo.

09 fevereiro, 2010

Uma visão menos romântica do software livre


Uma vez recebi da minha irmã um paper discutindo sobre como as parentes estão acabando com a inovação. Em verdade não concordei com os argumentos no geral, tinha um contra argumento a quase tudo hehhe

Mas eram contra-argumentos aos pontos levantados pelo paper, não sei ao certo se as patentes barram a inventividade ou não. Acho que, sendo bem pragmático e um tanto cético, se inseridas na sociedade capitalista moderna, elas acabam ajudando. Explico:  as empresas detentoras do poder financeiro acabam decidindo onde investir seu rico dinheirinho, e se elas não tiverem nenhuma segurança de conseguir vantagens competitivas com o resultado das pesquisas, talvez deixassem de gastar milhões nessas pesquisas. Não é muito justo, ético, nem cheio de arco-iris, mas parece ter sentido.

De qualquer forma, tô divagando, e a opinião acima ainda é bem inocente, admito. Preciso pensar mais nesse assunto. O que me leva ao motivo do post.

Esse tal paper que li termina com algumas conclusões, uma das quais cita o movimento de software livre como uma alternativa libertária para as patentes. Um exemplo de sucesso de pessoas sem interesses pessoais e compartilhando informações.

Acho essa visão romântica, pelo menos um pouco. Será que IBM, Sun, Google, Mozila e tantas outras tão gerando sofware livre por caridade?

Sobre esse ponto que resolvi refletir aqui (que ponto mesmo? software livre como sendo exemplo de salvação num mundo de patentes malvadas), só pra alfinetar um pouco. Trabalho com software livre há alguns anos, e pra empresas grandes, e em comunidades bastante ativas. Então nesse ponto consigo opinar com um pouco menos de inocência.

Qual o objetivo, em última instância, de uma patente? Em termos menos técnicos da wikepedia é isso (no site do INPI tem a definição legal)


Uma patente, na sua formulação clássica, é uma concessão pública, conferida pelo Estado, que garante ao seu titular a exclusividade ao explorar comercialmente a sua criação. Em contrapartida, é disponibilizado acesso ao público sobre o conhecimento dos pontos essenciais e as reivindicações que caracterizam a novidade no invento.

Os direitos exclusivos garantidos pela patente referem-se ao direito de prevenção de outros de fabricarem, usarem, venderem, oferecerem vender ou importar a dita invenção.

Ou seja: em troca de tornar público o projeto da invenção, o detentor da patente pode utilizar exclusivamente, e por um tempo determinado, de sua invenção no sentido comercial. Só o inventor pode ganhar dinheiro com a invenção, por um tempo pelo menos. E ele tem também garantido o reconhecimento de sua autoria.

Como fica com o software nessa história? Muda de legislação pra legislação, mas no Brasil, por exemplo, não se patenteia software. Tá aqui a
lei de patentes diretinho do site do planalto, pra checarem. Olhem o artigo 10, parágrafo 5.

No fundo, por mais que se tenha ótimas intenções em muitos casos, o que você ganha ao tornar seu software livre, em troca de divulgar seu código? Reconhecimento como autor e pode até garantir que ninguém vai usar seu software para ganhar dinheiro. Mas aqui de graça, diferente da patente que é paga.


Ou seja: de certa forma, as mesmas garantias de uma patente: em troca de divulgar o que foi inventado, você ganha a autoria e a possibilidade de que ninguém faça dinheiro com aquilo.

E acaba ganhando mais: uma legião de "fiscais" que, nessa visão inocente do software livre, acabam sendo muito ativos ao te ajudar a achar quem está usando seu sofware indevidamente. E acaba ganhando mais ainda: uma legião de programadores que, por utilizarem seu software de gráça, contribuem de boa fé com correções e melhorias gratuitas.

E depois, se você quiser, você ganha dinheiro com seu software do mesmo jeito. Por exemplo, usando dual licenses, dai quem quiser fazer grana pesada com seu invento tem que te pagar e usar uma licença comercial. O Firefox é assim, por exemplo (ou pelo menos era), assim como o mySQL.

Tem muita empresa que usa o open source como um escudo: coloca partes proprietárias dentro de um produto composto por vários open sources, com as mais diversas licenças de modo que o todo sai protegidinho, mesmo sem mostrar o pulo de gato que está encapsulado no componente proprietário.


Tem outras que realmente liberam determinado software, que passa a ser gerido por um grupo de pessoas e/ou empresas de boa, sem possibilidade de vender depois. Mas muitas vezes isso é feito por alguém que não tem no software seu nicho de mercado. Pesquisam, investem, e liberam. Dai ninguém mais usa comercialmente, mas o uso em si alavanca (acho que nunca tinha usado esse termo) os pontos onde a empresa ganha dinheiro. Será que com o Android, que deixará muito fácil e bem mais barato fazer celulares com um ótimo sistema operacional, não vai ajudar a Google com seu lance de ganhar provendo serviços como buscas e mapas?

Claro que tem muita coisa bacana, tem a comunidade atuante, tem o usuário doméstico usando de graça, tem a qualidade advinda do código ter livre acesso (muitos ajudando a otimizar), etc, etc e tals. Tem maneiras mais éticas de fazer o uso desse conceito, tem outras maneiras de ganhar com isso além das que citei... enfim, é complexo. Não sou contra a iniciativa de maneira nenhuma, sou muito a favor.

Mas não teria graça falar as partes que todo mundo defende num post cético, então fica essa reflexão.

E, na onda dos 3Ds

No mínimo interessante:


Não só terror e desenhos vão entrar na onda dos 3D!

Dessa vez a industria pornô veio atrasada nas inovações tecnológicas :)

08 fevereiro, 2010

Cupinzeiro ou Berra Vaca?


União Altaneira, Beeiro, Caxerosas, Cupinzeiro e Berra Vaca. Quem nunca ouviu falar nenhum desses nomes é porque não conhece o carnaval de Barão Geraldo. São blocos de rua de vários bairros de Barão Geraldo e se encontram no dias de Carnaval em seus trajetos pelas ruas do distrito.

A apoteose costuma ser no início da avenida Santa Isabel (onde também acontece a concentração do Berra Vaca). O União Altaneira é formado pelos estudantes da Moradia da Unicamp. O Cupinzeiro pela galera do Jardim Santa Genebra e o Beeiro por carnavalescos da Vila Santa Isabel. Já o Berra Vaca, pela união de outras vertentes...

Sem apoio da prefeitura, essa manifestação carnavalesca, em Campinas, não tem esquemas rígidos de desfile nem de horários, mas quem quiser aparece e a folia rola solta todos os dias do carnaval.

Esse ano fico em Campinas no carnaval. Dai, como da outra vez que fiquei, acho que devo passar pelo Cupinzeiro. Se bobear apareço no Berra Vaca também.

Tem os outros blocos que não conheço, esses vão depender do ânimo e do calor nos dias.  Aliás, se mais alguém for estar por aqui, vou copiar ali embaixo, no fim do post, a programação pro carnaval de Barão desse ano.

De qualquer forma, se estou escrevendo aqui, é claro que tem alguma viagem envolvida. E a viagem de hoje é sobre cultura popular.

No outro ano que fiquei aqui visitei esses dois que comentei (Cupinzeiro e Berra Vaca), e depois ouvi algumas várias discussões Unicamp afora sobre esses blocos.

O Cupinzeiro pareceu ter um perfil mais "cult", sendo inclusive um "núcleo de sambistas e compositores", atuante não apenas no carnaval, e que conta, por exemplo, com interpretações de Geraldo Filme, Adoniran Barbosa, Eduardo Gudin, Germano Mathias e Paulo Vanzolini, além de sambas cantados pelos antigos escravos de fazendas de Barão Geraldo. E teve menos gente (muitas famílias, crianças e estudantes da Unicamp).

O Berra Vaca já lembrou naquele ano um perfil mais "normal", com marchinhas, e com muito mais gente. Mais esquema "pegação"  (nada perto das famosas micaretas, by the way). Nas concentrações ouviamos muito do axé e do funk, já meio de lei nos últimos carnavais. Detalhe: não ouvi isso no bloco, mas de pessoas que frequentavam o bloco e durante a concentração.

Receio que minha opinião do Berra Vaca esteja errada.

Depois de tanta introdução. às viagens... ouvi muitos amigos dizendo que o Cupinzeiro tinha sido sinônimo de cultura e o Berra Vaca tinha sido sinonimo de povão. Essas visões podem ser injustas, e podem ser devidas ao pouquinho que experimentamos do Berra Vaca (fui embora cedo, não curti o ambiente, tava cansado... enquanto no Cupinzeiro eu acompanhei até o fim, com direito a carregar algumas das alegorias junto com o Maurício).

Mas independente disso e supondo, só pra viajar, que nossa experiência seja suficiente pra entender o perfil dos dois blocos, até onde temos o direito de chamar o sambinha "cult" de cultura, e o sambão pegação de não cultura? Será que tentar voltar e reviver um passado meio mítico (e que "chutamos" que era assim) é mais cultural do que se inserir no comportamento da sociedade na qual vivemos atualmente?

Dá pra fazer analogias com várias outras situações, e não sei a resposta. Se deixar massificar e esquecer a obra artística anterior não deve ser sinônimo de cultura. Mas se apegar ao passado e não tentar entender e se inserir no novo talvez também não seja. Qual será o ponto ótimo?

E, na verdade, nem entendo direito o motivo desse post. Não tenho nenhuma opinião pra compartilhar... deu vontade de escrever essas viagens todas. Aliás, pessoalmente, me diverti mais no Cupinzeiro e devo voltar nele esse ano.

Acho que, no geral, dá pra esquecer tudo que veio acima e se apegar na programação abaixo. Quem estiver por ai e quiser prestigiar o carnaval de rua, sem filosofar sobre o assunto e sim se divertir, anota ae:


Programação do Carnaval 2010 em Barão Geraldo (confirmem antes, copiei de um site aleatório):

Dia 12 de fevereiro
Bloco Berra Vaca – a partir das 23h
Concentração: Banca Central

Dia 13 de fevereiro
Bloco Caixeirosas – a partir das 15h
Concentração: Praça do Coco
Saída: Vila São João

Dia 13 de fevereiro
Bloco União Altaneira – a partir das 16h
Concentração: Av. Santa Isabel/ Banca Central
Saída: Moradia da Unicamp

Dia 14 de fevereiro
Bloco Carna Barão – a partir das 16h
Concentração: Banca Central
Saída: Av. Santa Isabel, em frente ao Supermercado Oba

Dia 15 de fevereiro
Bloco Cupinzeiro – a partir das 18h
Concentração: Praça do Coco

Dia 16 de fevereiro
Bloco Beeiros – a partir das 19h
Concentração: Av. Santa Isabel
Saída: Moradia dos Estudantes

Dia 16 de fevereiro
Bloco Berra Vaca – a partir das 23h
Concentração: Banca Central



29 janeiro, 2010

Querida, estiquei o iPod!

Finalmente um post de tecnologia, pra não desvirtuar meu lado computeiro!

De vez em quando escutava da Mauren que o Steve Jobs consegue gerar um campo de distorção em volta de tudo que ele lança e fazer algo não tão bom assim parecer ótimo. Leia-se: Mac, Macbook, iPod, iPhone, etc, etc, etc (inclua aqui qualquer coisa começada com i).

Tendia a concordar, pensando do ponto de vista técnico. Acho o Sony Walkman muito melhor que o iPod em termos técnicos (qualidade de som, robustez do aparelho, autonomia da bateria, etc). Acho o N97 bem melhor que o iPhone (tem câmera de 5 megapixels com lentes Carl Zeis, 3G, teclado querty, touch screen, funciona como drive USB, tem saída pra TV, multitarefa, copy 'n paste, permite aplicações gratuitas, permite flash, etc, etc, etc). Enfim, não entendia a Apple ter tanto suceso.

Acreditva no "Campo de distorção" do Steve Jobs. Claro que por Campo de Distorção, no fundo achava que a culpa era da midia.

Hoje, discutindo sobre o novo iPad, caiu a ficha mais a fundo da visão de mercado do Jobs. Não que a mídia não tenha ainda um peso razoável na minha opinião (o prefixo i ainda é sinal de status, os filmes/séries ainda mostram a Apple, junto com a Nike), mas é mais que isso.

Tecnicamente? O iPad parece um iPodzão. Não tem multitarefa, não tem 3G, não passa vídeos wide screen, não tem câmera, aplicações são compradas na Apple Store (um ecossistema um tanto fechado em comparação a outros SOs), não tem flash, não tem USB... por ai vai...

Em termos de novidade? Eles simplesmente contruiram um celularzão (sem a parte das ligações), numa era de miniaturização. Mas construiram um bixo bonito, e aparentemente bem fácil de usar.

Não é tão fácil pegar coisas gratuitas, torrents, mp3, etc (por gratuitas, na maioria das vezes pode-se ler roubadas). Mas é facil comprar conteúdo, bem fácil.

Besteira? Agora pensem nas suas mães, avós, tios, etc... Vão usar multitarefas? Vão buscar cracks pra aplicações? Vão saber lidar com um symbian? Vão fazer questão do wide screen? Das lentes Carl Zeis?

Agora pensem no tamanho dos mercados...

Agora coloquem esse novo aparelho num mercado como o americano: um pouco menos adepto da pirataria (lembram do iTunes, vendendo músicas sem complicação a 0,99 e fazendo o iPod crescer?), com internet rápida barata, com muitos pontos de wifi. E um pouco mais adeptos ao consumismo.

E pensem que esse mercado é mais barato, sem a carga de impostos aqui do Brasil. E sem um problema tão grande no tocante a ler usando esse aparelho no metrô (por exemplo) por medo de assalto?


Será que não é uma boa pro tio executivo ler seus jornais? Pro adolescente assistir seus filmes e séries (lembrem-se de que lá tem Hulu, Spotify, etceteras)? Pra mãe de família ver suas receitas enquanto prepara o almoço?

Enfim... eu, como tecnófilo e como alguém que trabalha na área, ainda acho um desperdício de dinheiro. Já fazia tudo isso com meu N95 há anos (e muuuuuito mais: acelerometro, gps, video,câmera, ligações, 3G, aplicações grauitas, flash, USB, saída pra TV, e mais etceteras). Mas não vejo minha mãe usando um N95...

Ainda no quesito "enfim', aqui no Brasil: não temos a internet barata, os muitos pontos de wifi, as Amazon store, os Hulu e Spotify's da vida. Aqui provalemente a venda desse aparelho seria apenas status (acho que a computação nas nuvens me permite algo com menor processamento, mas dai a pagar mais caro pra ter menos processamento que um netbook acho meio estranho).

Mas depois de tudo isso, e tendo em mente o conceito de público alvo (que, no caso da Apple não somos nós), o Steve Jobs é louco ou tem uma puta visão de mercado ao esticar o iPod?