26 outubro, 2010

Polícia no campus da Unicamp, de novo....


Esses dias, li essa notícia:


Logo depois, recebi essa nota num e-mail:
No fim da tarde desta sexta-feira feira, 22/10, membros do CAECO e da ATLÉTICA foram procurados pelo Orlando, nas escadarias do Instituto, que, sob o pretexto de manter contato, pediu uma relação de nomes e emails dos integrantes dessas instituições. Além disso, pediu nomes de membros da gestão passada de ambas.

Após conseguir o que queria, ele revelou para os alunos que a situação, na verdade, se tratava da reabertura de um inquérito policial para apurar uma denuncia de barulho após as 22h, feita pela procuradora da UNICAMP em novembro de 2009, por conta do suposto encontro de baterias no ano passado. A referida procuradora dirigiu sua denúncia contra responsáveis que ela identificou através de um cartaz entregue ao delegado de Barão Geraldo: IE, FCM, IA, IFCH e Engenharias. Isso gerou um trâmite similar na diretoria de cada Instituto e Faculdade.

O processo que chegou às mãos da direção do IE continha três documentos (anexados). O primeiro registrava a denúncia da procuradora junto à delegacia de Barão. O segundo trazia um pedido do delegado para que a reitoria da Unicamp informasse à polícia os nomes de possíveis envolvidos no tal encontro. Numa terceira folha a reitoria exigia, com prazo de cinco dias corridos, que o diretor do Instituto entregasse os nomes de quem ela julgava, à priori, possíveis responsáveis pelo evento: a gestão do centro acadêmico. Esta última datava do dia 20/10, 4a-feira.

Notem que a reitoria pediu ao diretor Mariano Laplane nomes dos membros atuais do CAECO. Mas ele sabia que: a) a bateria era da Atlética e não do CAECO; b) Que se tratava de algo relacionado à gestão passada e não da atual. Por livre iniciativa ele foi atrás de quem julgou serem os responsáveis.

Fomos informados pelos próprios professores que alunos da gestão passada da Atlética e possivelmente do CAECO receberam emails convocando-os para uma reunião na segunda-feira (25/10). Assumimos que seja de manhã porque à tarde, 14h30, ocorrerá a reunião da Congregação, presidida pelo Diretor.

A direção tem nomes da gestão passada da Atlética e do CAECO. Os alunos estão sendo perseguidos de duas maneiras: a) Judicialmente, pela polícia, por causa do barulho após as 22h00; b) Disciplinarmente, pela reitoria, pela venda de bebidas alcoólicas no campus e organização de festa fora dos regulamentos colocados pela universidade. Portanto, os alunos considerados envolvidos poderão ser jubilados, além de ter de responder criminalmente.

O que se passa é que a Associação dos Moradores (AMOC) têm se esforçado para transformar Barão Geraldo num bairro pacato para ser uma boa área de expansão imobiliária para grandes condomínios. Esse esforço passa por disciplinar a UNICAMP e transformar a universidade em um colégio, reprimindo qualquer manifestação cultural, desde a festa do Festival de Artes do IA até encontros de baterias. Não se nega que a reitoria receba pressões externas, contudo, inegavelmente ela lançou mão de uma agenda própria para coibir esses espaços no campus, implantando um projeto específico de universidade.

Agora as coisas estão se resolvendo pelo caminho de menor resistência, ao invés da reitoria enfrentar a especulação da AMOC, sai à caça de estudantes que não fizeram nada mais do que ocupar o espaço público com o qual eles estão envolvidos em prol de manifestações culturais e comunitárias.

A direção do Instituto é declaradamente contra as iniciativas dos estudantes. O vice, Cláudio Maciel, era chefe da comissão da reitoria para apurar e punir estudantes organizadores de eventos. O diretor Mariano Laplane fez considerações sobre as festas no campus, declarando-se abertamente contrário. Também disse não entender porque estudantes se posicionariam contrariamente ao democrático estado de direito brasileiro e sua polícia para defender o direito de “fazer barulho”.

A gestão do atual reitor, Prof. Fernando Costa, é muito mais truculenta que a de seus antecessores. Na noite de quinta feira, ao mesmo tempo em que a polícia invadia o campus para dissolver uma festa, PM’s invadiam residências da Moradia Estudantil sem mandato, na calada da noite.

Pra completar li comentários sobre essas notícias, vindo de amigos que respeito, dizendo que está certo. E que a polícia tinha mais é que bater nos estudantes.. 

Polícia no campus

Fico triste... parece que não temos muita memória, que esquecemos tudo que aconteceu durante a ditadura, por exemplo... 

Isso partindo para uma discussão mais sutil: a presença da polícia num campus universitário, com intuito de coibir manifestações sociais/culturais. Cara, que absurdo uma coisa dessas... ainda se a desculpa fosse coibir assaltos e/ou estupros eu levaria com um pouco menos de ceticismo (embora ainda não concorde, por motivos mais filosóficos).

Me lembrou de uma viagem que tive um tempo atrás: ao visitar o presídio na Ilha Grande, em Angra, estava tudo destruido. Depois, visitei os campos de concentração na Polônia e estavam preservados. Mas era um clima tenso, pesado... Fiquei me perguntando porque mantiveram "aquilo". Na saída vi a resposta numa placa: "Aqueles que não aprendem com seu passado estão condenados a vivê-lo novamente".

Não sei quanto a vocês mas eu conheço pessoalmente pessoas torturadas e tals pela ditadura. E lembro-me vagamente dos movimentos de diretas já... 

Quer dizer, não é uma coisa tão longe assim. É que preferimos esquecer mesmo...

Barão Geraldo

Mas o foco principal desse post é mais específico, num to a fim de discussões intermináveis quanto a independencia cultural de uma universidade... Queria refletir um pouco sobre alguns pontos mais específicos e próximos.

Nesse sentido, o legal é que pra fazer inquérito contra estudantes tocando bateria dentro de uma faculdade, ou sobre estudantes de artes fazerem um festival de artes, tem polícia sobrando. Inclusive, continuar investigando hoje pra punir alguns estudantes que tocaram bateria dentro da faculdade depois das 10 da noite em 2009!

Quando eu ainda morava em Barão e alguém invadiu minha casa pra olhar pela janela do quarto de minha irmã, a resposta foi: "Quem manda morar com mulheres? Eles vêm ver mesmo, não temos pessoal pra resolver isso e fazer BO dá muito trabalho" Tempos depois ficamos sabendo de estupros... Será que com os anos, os bandidos não aprenderam que poderiam entrar, em vez de só espreitar pela janela, já que a polícia não viria mesmo?

Ou quando fomos assaltados e descobrimos ser a 17 república assaltada NAQUELE DIA, a resposta: "Não temos o que fazer, nem homens pra isso" Que tal passar um rádio com a descrição do carro e dos bandidos? Ou é pedir muito? Um BOzinho só pra constar, mataria alguém? Mas não, dá muito trabalho...

Claro que na semana seguinte assaltaram o dono da Frutaria (estabelecimento comercial tradicional do bairro e provavelmente com seguro) e em menos de 5 minutos tinham vários camburões e 2 helicópteros rodando o bairro... Apesar de que a maioria dos moradores não estudantes e membros da AMOC pagam sua miliciazinha armada particular, então nem precisam tanto assim da polícia. 

Mesmo essa cruzada da AMOC contra estudantes parece não se lembrar do passado. O que seria de Barão Geraldo sem a Unicamp? Alguém lembra?

E o que me entristeceu, na verdade, é que tem gente que ainda acha normal: vamos lá, acabemos com as festas, com os festivais, com as músicas, com as baterias... Paguemos nossas milícias pra nos proteger já que temos dinheiro pra isso. E paguemos os seguros, da casa e do carro, já que temos dinheiro pra isso. Os outros que se fodam. E torçamos pra que a próxima notícia de estupro não envolva nossa familia (porque dai teremos o trabalho de termos que nos revoltar com a situação). 

E fiquemos trancados em casa vendo novela (isso é, se ainda surgirem atores pra gerações futuras, talvez surjam desde que ensaiem bem quietinhos e fora das faculdades).