31 maio, 2011

Memória e responsabilidade


Uma vez, lá pelos anos de 2001, visitei a linda Polônia e os não tão lindos campos de concentração em Auschwitz. A visita e as lembranças dariam um post de 1000 páginas, então vou ficar só com o que me lembrei ontem ao ler nossos jornais. E o que me lembrei foi da pergunta que me fiz no começo, quanto ao sentido de manter aquele lugar como ponto de visitação. Parte da resposta me foi dada na placa na saída: 


"Aquele que não recorda a História está condenado a vivê-la outra vez"


Ilha Grande


Ao visitar a Ilha Grande, no Rio, e ver os destroços do presídio destruído, aquela plaquinha lá de Auschwitz  fez mais sentido. O presídio foi dinami­tado e demolido em 64. Perdendo assim um importante patrimônio histórico e cultural, pelo menos em certo sentido. Afinal, podemos até esquecer de como a mente humana transformou uma ilha linda (e põe linda nisso) em uma masmorra ditatorial. Lembra um pouco das discussões de Foucault sobre A Prisão.

A ficção


Tem exemplos legais na ficção sobre o uso consciente desse tipo de estratégia, de se esconder a história. Sempre me vêm à cabeça o ótimo livro 1984, do Orwell e sua Thought Police. Mais especificamente essa passagem (que também é conhecida pelos fans do Rage Against The Machine): “Who controls the past controls the future; who controls the present controls the past”. Adoro essa passagem, principalmente na música, ficou animal.


Finalmente, porque pensei nisso lendo as notícias ontem?


Olha o que tava lendo no O Globo:  “BRASÍLIA - Reinaugurado nesta segunda-feira, o chamado Túnel do Tempo do Senado, que retrata os principais fatos da história brasileira desde a proclamação da República em 1889, acabou suprimindo acontecimentos mais recentes como o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, aprovado pela Casa em 1992. Embora visivelmente constrangido com a omissão no painel, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tentou minimizar o fato, argumentando que o impeachament teria sido "um acidente" da história recente.


E olha a resposta do Sarney ao ser questionado: “- Olha, eu não posso censurar os historiadores encarregados de fazer a história. Talvez esse episódio seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na história do Brasil. Mas não é tão marcante”.


O senado julga o processo de impeachment de um presidente devido a corrupção (em especial ao lance do PC Farias, mas não vem ao caso pra minha presente crítica). O senado condena esse presidente à perda do cargo e a uma inabilitação política de oito anos  (tudo bem, ele saiu de maneira semi honrosa renunciando antes). Acontecimento único na história do Brasil. E quase único em toda a história da humanidade. E... ahh, nem merece estar no túnel do tempo do senado. Afinal, nas palavras do Sarney: foi apenas um acidente e não marcante.


Faço minhas as palavras de Orwell e de Auschwitz , e vou ouvir um Rage Against The Machine básico durante essa manhã:


-  Aquele que não recorda a História está condenado a vivê-la outra vez!


- Who controls the past controls the future; who controls the present controls the past!