Uma vez, lá pelos anos de 2001, visitei a linda Polônia e os não tão lindos campos de concentração em Auschwitz. A visita e as lembranças dariam um post de 1000 páginas, então vou ficar só com o que me lembrei ontem ao ler nossos jornais. E o que me lembrei foi da pergunta que me fiz no começo, quanto ao sentido de manter aquele lugar como ponto de visitação. Parte da resposta me foi dada na placa na saída:
"Aquele que não recorda a História está condenado a vivê-la outra vez"
Ilha Grande
Ao visitar a Ilha Grande, no Rio, e ver os destroços do presídio destruído, aquela plaquinha lá de Auschwitz fez mais sentido. O presídio foi dinamitado e demolido em 64. Perdendo assim um importante patrimônio histórico e cultural, pelo menos em certo sentido. Afinal, podemos até esquecer de como a mente humana transformou uma ilha linda (e põe linda nisso) em uma masmorra ditatorial. Lembra um pouco das discussões de Foucault sobre A Prisão.
A ficção
Tem exemplos legais na ficção sobre o uso consciente desse tipo de estratégia, de se esconder a história. Sempre me vêm à cabeça o ótimo livro 1984, do Orwell e sua Thought Police. Mais especificamente essa passagem (que também é conhecida pelos fans do Rage Against The Machine): “Who controls the past controls the future; who controls the present controls the past”. Adoro essa passagem, principalmente na música, ficou animal.
Finalmente, porque pensei nisso lendo as notícias ontem?
Olha o que tava lendo no O Globo: “BRASÍLIA - Reinaugurado nesta segunda-feira, o chamado Túnel do Tempo do Senado, que retrata os principais fatos da história brasileira desde a proclamação da República em 1889, acabou suprimindo acontecimentos mais recentes como o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, aprovado pela Casa em 1992. Embora visivelmente constrangido com a omissão no painel, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tentou minimizar o fato, argumentando que o impeachament teria sido "um acidente" da história recente.”
E olha a resposta do Sarney ao ser questionado: “- Olha, eu não posso censurar os historiadores encarregados de fazer a história. Talvez esse episódio seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na história do Brasil. Mas não é tão marcante”.
O senado julga o processo de impeachment de um presidente devido a corrupção (em especial ao lance do PC Farias, mas não vem ao caso pra minha presente crítica). O senado condena esse presidente à perda do cargo e a uma inabilitação política de oito anos (tudo bem, ele saiu de maneira semi honrosa renunciando antes). Acontecimento único na história do Brasil. E quase único em toda a história da humanidade. E... ahh, nem merece estar no túnel do tempo do senado. Afinal, nas palavras do Sarney: foi apenas um acidente e não marcante.
Faço minhas as palavras de Orwell e de Auschwitz , e vou ouvir um Rage Against The Machine básico durante essa manhã:
- Aquele que não recorda a História está condenado a vivê-la outra vez!
- Who controls the past controls the future; who controls the present controls the past!
No caso do Brasil, o que temos são políticos vaidosos, orgulhosos e moralmente desequilibrados (como todo brasileiro médio é)... Ficam se esbaldando e se achando muito do "portante". Então é de se esperar que eles queiram varrer a sujeira para debaixo do tapete, como acontecem todos os dias neste belo e lindo país...
ResponderExcluirOutro dia saiu uma pesquisa sobre acidentes de trânsito e demonstrou que os motoristas, mesmo sabendo que são culpados, sempre tendem a jogar a culpa no outro envolvido no acidente...
Qualquer brasileiro médio que virar político, vai ser um político médio...
Pra mim, Auschwitz pode ser demolida! Porque não é aquele lugar que importa, mas sim os valores que são passados pra gente, de ética, moral e dignidade...
Grande coisa, fizeram um túnel do tempo... Provável que eu morra sem ir lá conhecer!
Neste domingo, a Ana Hickman entrevistou a dupla Victor e Leo. Ela perguntou se o Victor não tinha vontade de ser pai. Ele disse: Quero ser um BOM pai. E criticou as pessoas que querem ter filho apenas por ter, para satisfazer uma necessidade socio-cultural, mas sem estar preparado para um filho.
Não adianta Auschwitz estar lá, porque eu nunca estarei lá... Então, que diferença esse lugar faz na minha vida?
A diferença está aqui:
http://biucsproject.org/general/philosophy_giges_ring.htm
http://biucsproject.org/general/philosophy_living_together.htm
http://biucsproject.org/general/philosophy_action_freedom.htm
Não precisamos saber que o Holocausto aconteceu... Isso pode ser esquecido... O que não pode ser esquecida é a Moral e o Respeito e o Amor ao próximo...
O QUE VOCÊ NÃO FARIA, MESMO SE FOSSE INVENCÍVEL?
Só uma coisa para falar:
ResponderExcluirFreedom!!!
Man, I'd go with William Bennertz Wallace there, but I'll go with "FREE WILLY!!!!"
ResponderExcluirCopiando uma resposta do Rolo de outra "rede social":
ResponderExcluir"Do ponto de vista de cidadão, posso compreender a tua opinião. Mas eu fosse você, teria muito cuidado com abstrações generalizantes como o "brasileiro médio". Pense um pouco: o que constitui o Brasil? É muito mais uma convenção geo-política (fronteiras arbitrárias construídas historicamente) do que uma constância moral, ética, cultural, linguística ou qualquer outra categoria "social". O ribeirinho do Amazonas é completamente diferente do quase uruguaio do Chuí. Eles acabam sendo brasileiros por força de lei, convenção e conveniência, mas um abismo cultural (sem juízos de valor) separa as pessoas de regiões tão distintas.
O que quero dizer é que o "brasileiro médio", o "paulista", o "nordestino" ou o "gaúcho" médios são abstrações que usamos retoricamente para produzir um discurso. Porém, essa simplificação deve ter uma limitação, senão estaremos sendo injustos e incoerentes com aqueles que não caem - pro bem ou pro mal - dentro do conceito utilizado. (e isso sem sequer tocar no determinismo pessimista por detrás da afirmação que todo brasileiro médio vai ser um político médio - quer dizer que ninguém nunca muda?)
Por outro lado, eu acho que Auschwitz deve estar lá, sim. Se você ou eu nunca fomos, o Matheus foi. E pode nos falar a respeito. Pode (re)produzir a História a respeito. E acho isso porque penso que moral, ética ou quaisquer outros traços culturais (e suas representações opostas e negativas, como o Holocausto) não existem no éter, mas devem sempre estar materializados em algum meio - escrito, falado, etc.
Meus sobrinhos pequenos já não sabem muito quem foi o Collor (o antigo, ex-presidente e não necessariamente sua encarnação atual). Se retirarmos sistematicamente as referências ao evento histórico, ainda podemos "educa-los" através de exemplos hipotéticos. Mas eu particularmente acho que os exemplos reais tem mais apelo. (e tanto é que você lançou mão da entrevista da dupla sertaneja, quando poderia ter escrito uma parábola qualquer).
Enfim, concordo com o Matheus. A História e os monumentos, museus, memoriais etc. possuem, sim, uma função social importante."