Duas reações diferentes...
Uns dias atrás o ex-namorado de uma(um) atual BBB, ex-homem, ilustre ex-desconhecido(a) e atual conhecida(o), mas provavelmente futura(o) desconhecida(o) anunciou algo sobre essa pessoa. Reação na empresa onde trabalho: euforia, todos querem saber qual foi o anuncio.
Mais recentemente duas ilustres ex-desconhecidas do mesmo BBB se beijam. Reação ao meu redor ao lerem a notícia: sala em polvorosa (s.f. azáfama; grande atividade; agitação; rebuliço). Pessoas param o que estão fazendo pra ler sobre o fato, olhar pra tela do portador da mensagem.
Tá... vá lá... Num sou nenhum obervador de vidas alheias, muito menos de desconhecidos (atuais, ex, ou futuros), mas tem gente que gosta disso.
Hoje: sai na mídia que o Egito cortou a Internet de sua população. Reação das pessoas ao meu redor: nula. Reação que leio em posts na net, buzz, facebook, etc: "Onde já se viu, se fosse aqui eu ficava louco!", ou então "País de merda que faz uma coisa dessas, têm que se fuder mesmo".
Tá... vá lá... as vezes as pessoas não conhecem o que tá acontecendo e emitem opinião no calor do momento sem tentar entender mais a fundo. Eu faço isso o tempo todo...
Um pouco depois um colega mostra na tela dele as cenas em tempo real transmitidas pela Al Jazeera, conseguindo transmitir via satélite, mesmo durante o "apagão informacional" do governo. E mesmo enquanto o exército invade o próprio prédio de onde estão transmitindo. Eram cenas de guerra, típicas de filme mesmo. Reação das pessoas: nenhuma. Algumas olham (algumas poucas) e voltam a falar da novela. Ou, quando tecem algum comentário, é na linha do "país de merda, merece mesmo".
Caras, nada contra nenhuma pessoa ou contra interesses dessas pessoas. Cada um cada um, cada qual cada qual. Eu gosto de Buffy rs.
Mas isso me fez divagar e querer postar de novo, e se todos têm direito a se expressar, eu também tenho.
O Egito, e a Internet.
Um governo ditatorial de mais de 30 anos é questionado pelo seu povo. As manifestações são agendadas e organizadas pela Internet.
Alguns usam a internet pra ver putaria, outros pra fofoca, outros pra cultura, alguns pra flash mobs (como andar de cueca por São Paulo). Os Egipcios resolveram usar pra organizar um movimento de resistência.
Mais do que isso, a Internet acabou sendo um meio para escrever a história enquanto ela ocorre, e do ponto de vista do oprimido e não do opressor. Olhem a wikipedia (até o momento em que escrevi esse post tava lá a página):
Ou seja, muita informação. E até um nome pra data, o "Day of Anger"! E tô falando sobre algo que ainda está acontecendo.
Na mídia "formal"?
Fizemos questão de ligar a TV agora há pouco, as noticias que aparecem nos textos durante a programação da Globo News são do tipo: "manifestantes queimam carros", "manifestantes queimam prédios", "manifestantes queimam ônibus". Num dão muito destaque (embora tenham sim citado) ao regime, às condições de vida, nem tampouco às pessoas que estão se queimando (isso mesmo: colocando fogo em si mesmas até a morte) em protesto. Também não falam da população receber os manifestantes com alegria, acenando das janelas com bandeiras do Egito.
Voltando à Internet
A wikipedia, os blogs, e a Al Jazeera estão lá, contando a história sob outra perspectiva pra quem quiser ler. A história, olhem que raro, não está sendo re-escrita depois, pelo vencedor, mas está sim sendo escrita sincronicamente por ambos os lados.
Pera ae! O povo tá usando a Internet pra se organizar, e depois ainda por cima pra contar a história? O que o governo faz? Derruba a Internet (em dimensões sem precedentes até hoje), claro. E já aproveita e derruba as redes de celulares também.
Voltando à motivação do post. Qual a reação que vejo de pessoas nos posts a que eu tenho acesso quanto a isso? "Paisinho de merda, tem que se fuder", "Nossa, imagina eu sem minha Internet!".
O que nos chama a atenção.
Futebol chama a atenção. Fofoca chama a atenção.
A "história" acontecendo agora? Nãããão, deixa pra lá. Uma estação de TV sendo invadida pelo exército em tempo real? Xiii... é tudo muçulmano, num tem interesse pra mim.
Me pergunto: se fossem cristãos, será que chamaria mais a atenção? Se fossem parentes /conterrâneos de um dos Big Brothers, que tivesse comentado no ar sobre o conflito, talvez? Ou se a globo resolvesse mostrar mais a fundo?
Ou não, talvez toda essa discussão sobre ditaduras, uso de midias, direitos humanos, mortes, rebeliões, realmente não seja interessante mesmo.
Outra viagem que tive: se a mesma história tivesse sendo contada por um diretor pop, como o Emerich ou o Spielberg, e com toda aquela aura midiática de Hollywood, será que seria minimamente mais interessante do que ver o the real thing acontecendo?
Reality versus Real
Essa última viagem, sobre se o mesmo caso sendo contado por um diretor de Hollywood seria mais chamativo, me leva a outras divagações malucas.
Como disse o Auro, o que é exibido como realidade é tratado com tanta naturalidade que quando o que é real de fato toma parte, é rejeitado com a alcunha de falso, irreal, desinteressante.
Não tem graça ver uma rebelião de verdade, parece até mentirinha.
Me lembrou de umas críticas que ouvi quanto ao último filme do Zé do Caixão, diziam por ai que é "tosco", irreal, mal feito. Mas o filme dele usa cenas reais, no sentido mais estrito da palavra. Ele contrata, por exemplo, masoquistas, pra serem feridos de verdade enquanto ele filma. Mas isso acaba sendo chamado de "mal feito", tosco, irreal. O padrão de realidade parece ser ditado pelos filmes de ficção.
Será isso uma verdade: "Baudrillard claims that our current society has replaced all reality and meaning with symbols and signs, and that human experience is of a simulation of reality" ??? (http://en.wikipedia.org/wiki/Simulacra_and_Simulation).
O que isso tem a ver com toda a discussão inicial?
Sei lá, lógica meio não-linear e viajante, mas acho que o resumo seria mais ou menos:
- Preferimos a ficção en detrimento da realidade?
- Somos influenciados pela midia de massa ao decidir no que iremos nos interessar?
- A ficção definiu um novo paradigmna do que seria real?
- Tá tão calor que eu prefiro ficar escrevendo coisas non-sense na frente do ventilador em relação a deitar na cama e ver um filme?
Auto-crítica
Isso tudo leva a repensar minha relação com algumas coisas. Toda essa crítica se aplica a mim mesmo em várias situações, ver algo "ruim" e considerar normal. Sei lá. Não vou virar nenhum humanitário a partir de hoje, mas repensei algumas coisas.