28 março, 2010

Não vi e não gostei, ou preconceito com o preconceito


Um dia desses, discutindo sobre cinema, eu disse que não iria ver determinado filme que está (estava) muito na moda. Continuando na discussão, assumi que não veria por preconceito mesmo. Minha experiência prévia com aquele diretor e com o cinemão blockbuster me dava dicas de que eu provavelmente passaria raiva por ter gastado a grana do cinema (que aliás, aqui em Campinas pelo menos, tá bem caro).

O preconceito com o preconceito.

A reação à essa confissão de fui preconceituoso não foi muito amigável... coisas do tipo "sua argumentação baseia numa crença e não no conhecimento",  "é irracional e por isso não dá para tentar argumentar com você", etc. 

Ouvi também críticas ao fato de eu assumidamente dar valor à opinião de terceiros ao escolher meus próximos filmes. Como se assumir que sou influenciado por outros fosse assumir que não tenho vontade própria. Não que eu acredite em tudo que leio/escuto, mas com o tempo fui me "sintonizando" com determinados críticos e/ou amigos e sei mais ou menos quem ouvir quando quero sugestão de uma nova obra. Inclusive no sentido inverso: às vezes faço questão de não assistir algo, dependendo de quem recomendou. No final, qual o ponto de estar numa lista de discussão sobre cinema se vou ignorar as discussões da própria lista?

Semana passada uma discussão na aula de inglês me fez retomar o tema aqui na minha cabeça.

E continuo assumindo que uso sim de preconceito em vários aspectos, principalmente quanto a filmes e livros.  

No fim, acredito que ao usar a palavra preconceito, por mais que eu tente esclarecer que quero com isso apenas assumir que o que me levou a determinada decisão foi um conceito formulado previamente, eu acabo trazendo outros valores pra discussão. 

Olhando no google bem por cima, vi apenas críticas ferrenhas à essa palavra, dai vir aqui hoje defender essa palavrinha indefesa :)

Acho que o valor etimologico dessa palavra está muito intimamente ligado ao conceito de discriminação racial nas nossas cabeças, e isso faz as pessoas se assustarem quando alguém assume o preconceito. 

Eu discordo totalmente que um conceito concebido previamente sobre algo esteja necessariamente longe do raciocinio e perto da crendice, como me foi dito naquela discussão sobre o filme que eu não veria. E também discordo de que não possa haver uma discussão baseada em lógica contra alguém que já tinha uma ideia prévia sobre o assunto.

Na verdade, todo o método cientifico é parecido com isso: você propõe uma tese, baseada na sua experiência passada, e passa a defendê-la frente a situações experimentais. Enquanto essa tese está valendo, você a utiliza como base pra contruir outros conhecimentos. Algum dia, descobre-se algo que fura essa tese, e você a aprimora. Pra ganhar um título acadêmico você inclusive tem que defender uma tese. Aristoteles já falava da "lógica do provável: o processo racional que não pode ser demonstrado", lá nos tempos aureos da Grécia.

Acho que a gente decide coisas baseados em preconceitos o tempo todo.  Sempre que existem opções excludentes, ou seja,  você tem que escolher uma opção em detrimento de outra (sem experimentá-las antes), você usou preconceito. Imagine-se com 2 propostas de emprego e só pode pegar uma. O que você faz? Decide pelo que ouviu falar, pelo que conhece das duas firmas, pela opinião dos outros. Pelo seu pre-conceito. E por ai vai, vamos julgando de acordo com aparência, modo de falar, modo de se vestir, influência da midia... O lance é ter mente aberta e ir refinando seus preconceitos com base nas suas experiências.

Os cabeça-duras

É claro que não concordo com os cabecas-duras, que depois que adquirem um conceito não querem mudar nem a pau. A dialética tá ai pra isso (olha a Grecia antiga de novo ai gente, pedante né?). De novo, o lance é ter mente aberta e ir refinando seus preconceitos com suas experiências...

O preconceito em épocas de super informação

Hoje em dia, com o acesso super rápido e praticamente ilimitado à informação, cada vez mais sinto necessidade de um filtro. 

Quando digo que não lerei O Monge e o Executivo, ou Quem Roubou Meu Queijo, ou que não assistirei a alguns dos candidatos ao Oscar, ou ao novo programa da Globo, não é que usarei esse tempo parado olhando pela janela, a questão é que tem muita coisa pra ser vista, ouvida, e lida, e linguas pra serem aprendidas, e por ai vai. E hoje é fácil conseguir essas coisas na net. Quem curte filmes clássicos, pro exemplo, dá uma olhada num fórum chamado "Making Of" (deve ter um link pro blog do Tio Mário ali no cantinho direito). 

No meu dia-a-dia vejo uns 10 episódios de séries por semana, vejo um filme a cada 2 ou 3 dias, leio um livro a cada uma ou duas semanas, além dos blogs, noticiários, buscas por novas músicas, etc...

E mesmo assim estou longe, muito longe, de assistir e ler tudo que quero. Acho que precisaria de algumas várias vidas pra terminar tudo heheheh. 

Ou seja, preciso filtrar. E vou continuar fazendo isso. Mesmo que signifique ficar um pouco alienado quanto aos Best Sellers, ou aos programas mais assistidos da TV, e coisas do gênero (depois de algumas décadas, meu preconceito mais forte acabou sendo quanto à unanimidades e preferências de público, que raramente me agradam quando abro a guarda e tento ver).

Vou perder alguma coisa boa no meio de tudo isso que estou filtrando? Claro, não tenho dúvidas disso, mas fazer o que...

Discriminação, generalizações e estereótipos

Muita calma nessa hora... Esse post é uma brincadeira com a palavra preconceito, que deu vontade de fazer depois da discussão lá na lista de cinema.

Muito cuidado com expandir essa brincadeira e assumir que eu defendo discriminações, generalizações superficiais, ou estereótipos. 

"todos os alemães são prepotentes", "todos os norte-americanos são arrogantes", "todos os ingleses são frios". Bullshit

Parto do principio de que meus preconceitos devem partir do relacionamento de conhecimentos obtidos em experiências prévias, de preferência minhas, com obras e/ou situações semelhantes.

Você é preconceituoso?

Finalmente, de minha parte: ao contrário do que ouço muito por ai, escuto sim opiniões dos outros, me influencio sim por elas, e uso de meu bom e velho preconceito de tempos em tempos .

2 comentários:

  1. O Segredo da Boa Decisão:

    http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/5/artigo150440-1.asp

    Alguns tipos de preconceito são muito bons!

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  2. Acho que o que você procura é a diferença entre o perjorativo "preconceito" - discriminação de algo a partir de determinada característica - e o "pré-conceito" - conceito prévio sobre algo a partir de informações fundamentadas.

    Ex.: Ler a sinopse do filme de decidir assistir ou não o mesmo seria um exemplo para gerar um conceito prévio (pré-conceito) sobre algo sem ter de se aprofundar no assunto (assistir o filme).

    Isto é completamente diferente de "não vou assistir o filme porque o ator é gordo" - preconceito.

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