17 maio, 2010

A vida imita o vídeo? Ou: real versus idéia do real...


Esse é Quick topic, acho.

E a partir de uma reflexão antiga, apenas lembrei-me disso agora cedo, olhando a paisagem da sacada numa manhã fria. Sei lá por que...

Enfim, ano passado saiu o novo filme do José Mojica Marins (vulgo Zé do Caixão): Encarnação do Demônio. E esse filme teve uma boa recepção pela crítica tendo vencido pelo menos um festival como melhor filme.

Então, eu não assisti. Mas minha esposa assistiu e disse que ... (sim, era pra ser uma piada com o Silvio Santos). Voltando: eu não assisti, mas conversei com pessoas que assistiram. E não uma, nem duas, mas várias disseram que não entenderam o auê (ó o auê ai, ô) em torno do filme. Que é mal feito, não convence nada, ta na cara que é falso.

Ouvi até gente dizendo que filmes como “O Albergue” são muito mais “reais” ao mostrar as cenas violentas/fortes, ou outros filmes americanos.

Mas o ponto é: O Zé do Caixão usa cenas REAIS. A cena da piscina com baratas era realmente uma piscina com baratas (dizem que parte da equipe técnica nem participou da gravação, com medo). Pra cenas de cortes e ou body-suspension ele chamou masoquistas que realmente faziam aquilo por prazer e daí gravou.

Ou seja: o paradigma que algumas pessoas (pelo menos algumas poucas pessoas que conheço) usam como real, é aquilo que vêm dos filmes norte americanos. Tiros super barulhentos, carros explodindo, etc e tals...

Tudo bem, eu já sabia disso (acho que todos sabíamos):  

Que nossa cultura é muito influenciada pela TV/Cinema (nossa inclui eu mesmo, que fique bem claro), mas eu sempre pensei isso do ponto de vista ideológico.

Esse exemplo fez refletir que também do ponto de vista “físico”, palpável (nesse caso: como uma coisa se parece) temos pensado um pouco da maneira que Holllywood nos ensinou.



5 comentários:

  1. Apesar de quick topic, a discussão é muito interessante; tem um quê de Baudrillard...

    http://en.wikipedia.org/wiki/Simulacra_and_Simulation

    :D

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  2. Então, quando você falou nos masoquistas, ficou bem claro. Você vê uma cena real de dor, mas nem parece tão dolorida. Nos filmes há muito exagero.

    O melhor exemplo são as bombas. Bombas não fazem labaredas, exceto as incendiárias.

    Bombas incendiárias, põem fogo, mas não derrubam as estruturas.

    Bombas de impacto, não emanam fogo, mas derrubam as estruturas próximas. (Talvez pegue fogo por concequência da demolição, se tiver combustível próximo - bujão de gás)

    Enfim, muita gente não saberia identificar um estampido real de tiro, porque os filmes mostram pra gente uma sugestão de uma nova realidade e não o que realmente acontece.

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  3. Exemplo:

    Granada de fragmento (não faz fogo, só lança estilhaços - repare nas divisões dos fragmentos):

    http://www.canyon-news.com/artman2/uploads/2/360559_Hand-Grenade-Posters.jpg

    Granada incendiária (repare no formato de frasco, sem sulcos de fragmento. Também não faz núvem de labareda, mas gera ignição e combustão dos objetos próximos a explosão):

    http://www.imfdb.org/images/thumb/7/78/AN-M14_Incendiary_Grenade.jpg/180px-AN-M14_Incendiary_Grenade.jpg

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  4. Nem tinha percebido isso até você apontar, mas realmente: o Baudrillard é discípulo de Barthes, que eu estudei muito naquela matéria de epistemologia que fiz no IA... As coisas se encaixam, não foi por acaso que refleti sobre isso então....

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  5. Aliás, li um livro o Philip K. Dick recentemente que usava esse conceito de simulacros

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