14 julho, 2010

Filme do Tio Mário: Malpertuis

Lá vai o Filme do Tio Mário da semana. Quem num sabe o que é um "Filme do Tio Mário", por favor leia a intro desse post.
O Cineclube de Bexiga ficava na Rua Treze de Maio, em São Paulo. A "Treze" era a meca dos bichogrilos, roqueiros, alternativos, boêmios, enfim todas as tribos tinham seu espaço nessa pequena babel cultural de São Paulo nos anos 80. Mas o principal, pelo menos prá mim, era o cineclube. Pequeno, acanhado, com somente um antigo projetor que obrigava a um intervalo forçado para troca de rolos no decorrer da sessão, foi um dos locais que me deram a chance de descobrir a Nouvelle Vague, Bergman, Neo-Realismo, etc.

O cineclube tinha um livro de visitas, onde os freqüentadores escreviam de tudo: poemas, críticas e principalmente, pedidos de filmes. O nome "Malpertuis" enchia páginas e páginas. Parece que quem tinha visto o troço nos anos 70 - aparentemente houve uma exibição do filme em alguma mostra ou ciclo especial - não esquecia. Eu, tomando meu café (é, o cineclube tinha um minúsculo coffee bar), ficava folheando este livro e morrendo de curiosidade para assistir o tal do Malpertuis (França/Bélgica/Alemanha, Harry Kümel, 1972). Numa próxima vez volto a falar do cineclube.

A oportunidade aconteceu na  9a Mostra de Cinema de São Paulo, em 1985. Lá estava ele, programado...e lá fui eu, assisti-lo. Prá início de conversa, existem diversas versões do filme. A última, restaurada pelo diretor e exibida em 2002 na Europa, é totalmente falada em flamengo, ao que parece o idioma original do filme (o diretor é belga). A que assisti no cinema, se bem me recordo, era falada em francês, com legendas em espanhol. Mas existem versões reduzidas, ampliadas, dubladas em inglês, alemão ou holandês - o que sem dúvida só contribui para aumentar o caráter cult do filme.

A trama é essa: Malpertuis é um castelo "assombrado", labiríntico e inescapável para quem o habita. Cassave (Orson Welles, excelente e completamente preguiçoso) está em seu leito de morte e deixa em testamento uma fortuna considerável para seus herdeiros, os quais devem por contrato viver até o final de seus dias em Malpertuis. Jan, um sobrinho de Cassave recém-chegado ao castelo, constata a estranheza dos tipos que compõe sua "família" - mistérios que serão revelados ao final da epopéia (aliás é um final daqueles reveladores e apoteóticos).

Os principais elementos utilizados pelo diretor são a composição surrealista e a mitologia grega, temas caraterísticos de Jean Ray (também belga, assim como o diretor Kümel), um dos melhores escritores europeus de literatura fantástica. Na minha impressão, um filme exemplar, de visual belíssimo e inventividade assombrosa, marcas do diretor Kümel, de quem depois acabei assistindo o anterior "Lábios de Sangue" (também chamado no Brasil de "As Escravas do Desejo" - Les Rouges aux Lèvres, Bélgica/França/Alemanha, 1971), também excelente e sobre...vampiras !!! Mas esse fica prá outro dia...

Uma boa notícia é que, com uma boa garimpagem, pode-se conseguir o VHS nas locadoras. Foi lançado como "Malpertuis - Estranhas Fantasias", acredito que pela Globo Vídeo. Boa sorte !!!!

[Math, de novo] Relendo essa dica hoje, lembrei que agora tenho o "As Escravas do Desejo"  (Les Rouges aux Lèvres) também citado acima. Tá guardado, ainda não assisti. Baixei numa leva de filmes de vampiras que peguei uma vez. Agora vai ganhar prioridade na minha fila dos a ver

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