De um lado, os “direitosos facistas”
De um lado
os blogs vermelhos dizendo que polícia nos campi não muda em nada a segurança e
(e agora vem a parte que me irrita) chamando qualquer pessoa que é a favor da polícia
de facista, nazista e coisas do gênero.
E dai acabam
desvirtuando a discussão, extrapolando o rótulo de facista pra qualquer pessoa
com uma opinião mais alinhada à direita. Assim se se pratica uma repressão
contra formas diferentes de pensar que me lembram justamente o... ahn... facismo!!
Acontece
que vemos segundo os dados oficiais, que o índice de crimes dentro da USP caiu
em mais de 90%depois do convênio com a PM. Ou seja, parece que está sim adiantando.
Do outro lado, os “esquerdosos maconheiros”
Então vem a
mídia mais “formal” generalizando e extrapolando no outro sentido. Sendo a
cereja do bolo, em minha opinião, a Veja com a matéria dizendo que: a “Democracia
de fardas” foi atacada a pedradas por maconheiros, e que todo o movimento que
estamos vendo essas semanas é tão somente pra não deixar prender esses “maconheiros”.
O pior é
que nos comentários dos leitores vi que essa sementinha cresce e cresce e floresce
a ponto de ter uma galera criticando a existência em si de cursos de sociologia e filosofia, como antros de
maconheiros baderneiros que são inúteis para a sociedade.
(abre
parênteses pra um desabafo sobre a democracia de fardas)
Com todo o
respeito pelos policiais honestos (que devem ser a maioria), mas “Democracia de
fardas” foi foda. Uma vez tive minha casa assaltada e os policiais apareceram
mais de uma hora depois, dizendo que não tinham como tentar achar os bandidos
por falta de homens (eles tinham a descrição das pessoas e do carro) e disseram
inclusive que nem iriam fazer o BO ali que dava trabalho, eu que me dirigisse
(sem carro e sem dinheiro) até a delegacia que ficava beeem longe em outro
bairro. Estranho, mas até o momento poderia ser verdade. Nem quatro dias depois
um rico do mesmo bairro morando a poucas quadras é assaltado e em menos de 10
minutos havia vários camburões e helicópteros rondando (sério). Claro que a
culpa não é exatamente dos policiais que estavam fazendo seu trabalho, alguém
deve ter tomado as decisões. Mas foi bem democrático mesmo, né? Há vários outros
exemplos aqui, mas não é o motivo do post.
(fecha o
parêntese do desabafo sobre a democracia de fardas)
Um pouco de histórico
A discussão
sobre polícia militar versus universidades é antiga, bem mais antiga do que
esse caso dos 3 maconheiros/estudantes de agora. Não acredita? Então vamos
lá...
Em um livro
chamado “O livro negro da USP” (de autoria coletiva de vários professores) eles
remontam essa discussão lá pra década de 40.
Tem quem
não acredita nisso, vá lá. Afinal são teorias sobre a função social da universidade
e de como a presença de uma força militar coibiria o livre pensamento e tals.
Mas são teorias, e cada um acredita no que quiser.
De qualquer
forma, ainda no “histórico”, tem dados menos subjetivos do que esse livro (e
vários outros), como a listinha abaixo.
>> Apenas nove
dias após o golpe militar, o que eles invadiram e quem eles caçaram? Não vou
nem responder a essa pergunta retórica. E não foi só essa primeira invasão não,
o histórico de invasões à universidades e torturas por parte da ditadura durou
muito.
>> Em 1969 o
governo criou o “Decreto-Lei nº 477”, elaborado pelo Conselho de Segurança
Nacional, especialmente para silenciar estudantes, professores e funcionários
das instituições de ensino.
>> Depois, em
1970, a mesma galera da ditadura teve a grande ideia de colocar a Academia de
Polícia na entrada da universidade.
>> Dai, em
1973, veio a criação da “Assessoria Especial de Segurança e Informações (Aesi)”.
Implantada na USP com objetivo selecionar os funcionários, colher dados sobre
atividades subversivas, levantar informações sobre alunos, entre outras cositas más. As invasões de salas
de aulas, com prisões de professores e alunos, aumentaram muito. A Aesi acabou
em 1982.
>> Dai vem a
nova Constituição Brasileira, de 1988, trazendo pela primeira vez o princípio
da autonomia universitária plena; Embora ainda muito se discuta até hoje sobre
o que seria essa “autonomia plena”, a polícia foi perdendo aos esse papel de controlar
o que se passa dentro da faculdade. A tal da “guarda universitária” da USP ganha
peso.
>> Em 2009 a PM
volta a entrar na USP, devido uma greve pedindo o de sempre (salário, melhores
condições, etc, etc). Alguém chuta o final da história? Ela terminou em
confronto, balas de borracha, bombas de efeito moral e gás de pimenta.
>> Em 18 de
maio último morre um estudante durante um assalto, e a PM ganha mais presença
dentro da USP, assim como as discussões de se ela deve ou não estar lá dentro
ganha nova força.
>> Mais
recente - e quase acabando a historinha (juro!) - em 8 de setembro agora
Antonio Ferreira Pinto (secretário estadual da Segurança Pública), coronel
Álvaro Batista Camilo (comandante do policiamento do estado), e pelo professor
João Grandino Rodas (reitor da USP)
assinam um convênio aumentando mais ainda a presença militar dentro da
USP.
(parênteses sobre o reitor)
Não que
seja diretamente ligado, longe disso, mas acho que de certa forma apimenta um
pouco essa história o fato de o reitor Rodas ter sido escolhido pelo Serra através
de uma nomeação que ignorou a votação da comunidade acadêmica, que teria
eleito Glaucius Oliva como reitor. Direito do Serra fazer isso, o resultado da
votação é apenas uma sugestão ao governador que é quem decide o nome. Direito
dele, mas algo não muito comum depois da ditadura. Tanta polêmica o reitor
causou com sua linha dura. Até considerado oficialmente "persona
non grata" pela faculdade de direito da USP (aka Largo da São
Francisco). Título inédito, e olha que eles tiveram alguns ditadores lá dentro (e tô
falando da São Francisco, não da FFLCH).
(fecha parênteses sobre o reitor)
>> Finalmente
chegamos no estopim que gerou às notícias das últimas semanas: 3 alunos
estariam portando maconha e as “rondas ostensivas” da PM de São Paulo (quem se
lembra da sutileza da Rondas Ostensivas
Tobias de Aguiar, também chamada de ROTA,
levanta a mão) vem gentilmente pedir pra eles os acompanharem até a delegacia (apesar
de que porte de drogas não daria prisão, até onde eu saiba). Mesmo com o pedido
sendo totalmente gentil e sutil, os alunos, vários professores e vários
funcionários perdem a cabeça e saem enlouquecidos contra os policiais bonzinhos
que só vêm uma alternativa que seria o uso – de novo – de bombas de gás e tiros
de borracha contra a horda de alunos e professores alucinados, ensandecidos e
perigosos.
>> Após essa
abordagem da polícia, o protesto contra a presença da polícia no campus ganhou
escala e finalmente explodiu com a invasão (ocupação?).
Isso falando
da história da PM na USP. Se pegássemos, por exemplo, a UNB, a história seria muito
maior.
All in all, o ponto é que a coisa é um pouco mais
complicada do que: “3 maconheiros tentando acabar com a formação intelectual
do Brasil, que felizmente foi salva pela maravilhosa democracia de fardas. Então uma onda de loucura se abateu sobre
outros alunos e sobre os professores que querem soltar os maconheiros de qualquer
forma”.
Quer discutir? Vamos discutir coerentemente
O resumão
é: estou indignado não com a opinião de um lado ou de outro, ou seja, não me indignam
opiniões pró ou contra PM em um campus. Eu mesmo ainda não tenho opinião sobre tal.
Sério.
Acho a
discussão disso muito bem vinda, por sinal.
Também a
discussão adjacente que está surgindo em muitos dos posts que li, sobre a descriminalização
da maconha, pode ser interessante e bem vinda. Mas se discutida com seriedade e
não com xingamentos e estereótipos.
Estou indignado
sim é com a desinformação e as generalizações idiotas que vem sendo feitas.
Algumas frases soltas pra terminar, meio que mostrando
minha opinião contrária à muita coisa que andei lendo repetidamente nos
comentários por ai:
>> Estudantes
da FFLCH, ou quaisquer estudantes de sociologia ou filosofia não são um bando
de maconheiros inúteis.
>> Fumar
maconha é proibido, é ilegal (embora, até onde sei, não punível por prisão).
Mas isso não faz com que a pessoa esteja errada em todo e qualquer aspecto da
vida. Dirigir acima da velocidade ou depois de uma cervejinha, ou não dar
preferência ao pedestre, também são atitudes ilegais (e que matam muito mais
por sinal) e nem por isso todo mundo que dirige assim de vez em quando é um
filha da puta que merece morrer e está errado em quaisquer aspectos de sua
vida.
>> Comprar num
camelô também dá dinheiro para o crime organizado.
>> A discussão
sobre se a soberania da faculdade deveria ou não contemplar a ausência de polícia
militar dentro da mesma é mais bem antiga do que esse caso dos 3 estudantes e
já estava sendo discutida antes (desde a década de 40!). Isso foi um estopim
pra a manifestação mais recente (assim como já ocorreram várias outras no curso
da história).
>> Uma pessoa
que tenha opinião a favor da polícia no campus, sejam quais forem seus motivos, não
é um facista tampouco um idiota. Nem é
um idiota aquele que acha que um reforço para a guarda universitária seria a
saída.
>> Discutir
baseando-se em xingamentos e estereótipos não leva a lugar nenhum, é apenas uma
batalha de egos idiota.
>> Mesmo se
você acredita que a PM não deveria entrar no campus, uma coisa é fato, a
criminalidade aumentou muito dentro dos campi nas últimas décadas. Já temos
assassinatos e estupros, e algo deveria ser feito a respeito. Aparentemente a
PM coibiu os crimes.
>> A existência
de maconha dentro dos campi não é algo novo, não está acabando com o futuro
acadêmico (li isso, sério!). Ela sempre existiu. Existiu e ainda existe em todos
os cursos, por sinal, quer sejam de humanas quer sejam engenharias, direito ou
medicina. Nem por isso não temos produzidos bons pensadores, médicos,
cientistas, idéias, etc.
>> Tem gente
que acredita que todo o lance de discutir repressão a maneiras diferentes de
pensar está errado por princípio, já
que as universidades seriam apenas cursos profissionalizantes que te dão um
diploma que por sua vez te dará um salário melhor. Nesse caso preciso opinar,
já tenho uma opinião forte contrária a isso, mas apesar de eu ser contra essa
linha de raciocínio quem pensa assim tem direito de falar e defender sua
opinião sem ser ofendido.
>> Transformar
um protesto político (seja a invasão/ocupação a melhor maneira de protesto ou
não) que tem como objetivo a retirada da polícia do campus da USP (quer seja
esse objetivo algo louvável ou não), em um protesto
contra a prisão de maconheiros é, pra dizer pouco, intelectualmente
desonesto. Além de ser também uma maneira fácil de levar o grande público a repudiar
tal protesto já que o tema 'drogas' quase sempre é um tópico de consenso (como
ouvi por ai e estou copiando, aliás), é como Hitler: caso você fale mal dele,
sempre estarão ao seu lado e assim fica fácil convencer quem não está acompanhando
tudo com senso crítico.
Também não tenho uma opinião totalmente formada sobre este assunto, pq de um lado acho q ela não deveria ter tomado tal proporção.
ResponderExcluirO próprio grupo de alunos q invadiram a reitoria não tem apoio de seus colegas de universidade e acho até um pouco engraçado vê-los pregarem o anarquismo e pedirem que a polícia saia da USP (e como li em alguns cartazes, também dos morros e favelas) qdo estão vestidos com roupas com marcas estampadas, caracterizando-se, ao menos visualmente, como parte da elite (e que acredito q conheçam bem pouco do q seja uma favela ou simplesmente, um bairro de periferia).
Mas, também tô usando de uma visão bem superficial dos fatos.
O que me fez escrever é q gostei bastante do q foi exposto neste post e concordo que td foi muito generalizado pela mídia e trouxe alguns rótulos e preconceitos à tona, que não se faziam necessários.
Gostei muito do seu texto. Foi o mais plausível que li até agora. Minha opinião é de que a PM tem que continuar nos campi. A forma como a abordagem e o tratamento aos estudantes será feito é que precisa ser discutido. Independentemente disso, a partir do momento que o grupo invade um espaço, depreda e usa de violência contra jornalistas ou contra qualquer um gratuitamente, perderam totalmente a razão. Se fosse um protesto pacífico, não precisavam esconder o rosto.
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