Polônia
Vou estreiar uma tag nova, "Diário de Bordo", pra viajar sobre viagens realizadas. E nesse post inicial vou tentar um belo exercício de memória já que escreverei um pouquinho de minhas impressões sobre a Polônia, onde estive em 2001. Na época mandei muitos e-mails com uma espécie de diário, mas perdi todos, depois peço pra alguém que os recebia me enviar, dai refresco a memória.
De qualquer forma, foi uma experiência interessante, tanto em termos de viagem quanto em termos de testar nossos limites, até onde dá pra ir apenas com vontade. Me deu vontade de viajar, testar meu inglês, conhecer o mundo, essas coisas. Fiquei um ano na faculdade com apenas uma disciplina no primeiro semestre e nenhuma no segundo, dai deu pra juntar grana. Depois parti com minhas malas improvisadas rumo a Varsóvia, pra ficar uns 4 meses trabalhando em simulações computacionais implementadas em C/C++ para o departamento de física nuclear da Universidade de Cracóvia.
12 horas depois de partir do aeroporto de Guarulhos me vi andando por Varsóvia com várias malas na mão e um Discman emprestado do Giu tocando R.E.M dai que caiu a ficha da loucura que tinha feito.
Varsóvia me pareceu meio feia, um pouco fake. Mas não tinha mais jeito, sai me virando com mímicas e pseudo-inglês e umas 7 horas depois estava eu chegando na moradia da univerdidade de Cracóvia, já umas 23:00. O pessoal da recepção não entendia patavinas de inglês e não tava saindo nada da nossa tentativa de conversa, quando aparece um grego, o Kostas, e me ajuda a me instalar (passando antes num Pub). Ficamos amigos desde então e até o visitei ano passado em Atenas.
Bom, se continuar nesse nível de detalhe vou escrever um livro (foram meses lá), então lets make the long story short:
Varsóvia
Me pareceu chata, uma São Paulo com alguns prédios reconstruídos como se fossem medievais. Não gostei. Recentemente recebi esse link do Rolo e me arrependo um pouco. Acho que se eu tivesse mais conhecimento, aproveitaria mais a cidade.
Cracóvia
Maravilhosa! Uma cidade linda, com pessoas receptivas, castelos medievais, ótimos pubs (contamos mais de 120 ótimos pubs só em volta da praça central), ótima universidade. Tá certo que convivi num meio à parte, que era o de uma boa universidade, mas a impressão que me deu é que o empenho dos poloneses em crescer, aprender, evoluir era enorme. Peguei a cidade com não muitos anos pós comunismo, e ainda fora da comunidade européia e já via neles uma sede de cultura e aprendizado que não via aqui na Unicamp. Mesmo que os mais velhos tivessem relutância em usar inglês (ainda resquícios de quando era proibido), por exemplo, os mais jovens, na média, falavam muito mais que aqui. Queriam aprender sobre o nosso país, coisas assim.
Auschwitz-Birkenau
Nada bonito ver os campos de concentração nazistas. Clima pesado, bem pesado. Duas fábricas de morte e tortura gigantes (o mesmo que se vê na abertura do X-Men heheh). Mas daí você pensa mais a fundo no que foi tudo aquilo... ouvir nas aulas de história é diferente de ver do que o ser humano é capaz. E está pertinho da gente temporalmente também: meu orientador lá me disse que nunca tinha ido porque sua família foi morta e torturada lá então ele não conseguiria. A gente vê essas coisas meio em perspectiva...
Não era bem nessa cidade, é em Cracóvia, mas vai aqui mesmo: conheci também o bairro judeu (onde gravaram A Lista de Schindler) e é interessante ver que um pais católico como a Polônia acolheu outras crenças/etnias mesmo pagando caro ao se defendender. E é bonito ver como os guetos resistiram desde o início da ocupação e, se não conseguiram resistir em armas, resistiram na cultura, literalmente undergroud, preservando a língua e os costumes na forma oral e/ou na forma de "fanzines" (que dá pra ver em alguns museus - falando em museus, vi meu primeiro Da Vinci lá).
Uma coisa que me veio à cabeça foi que na Ilha Grande, aqui no Brasil, destruíram o presídio pra que ninguém se lembre do que ocorre. Lá, em Auschwitz, mantiveram os campos de concentração intactos e colocaram uma placa: "Aqueles que não aprendem com a própria história estão fadados a vivê-la novamente".
Amizades
Nem tem como escrever tanta gente que conheci. Basta dizer que uma viagem em 2001 rende amigos que existem até hoje, alguns dos quais já fui visitar, outros que já vieram e outros que pretendo rever algum dia. De várias partes do mundo, com várias culturas diferentes. Aliás, eu era o único latino lá e chegaram a me perguntar se aqui no Brasil era comum ver negros nas ruas, louco né?
Aprendizado
Aprendi muitas coisas:
- Fronteiras são limites inventados que não significam muita coisa. Sai da viagem com uma ressalva quanto a dois tipos de opiniões: (a) aqueles que dizem que "O Brasil é o melhor país do mundo, temos as melhores paisagens, temos as melhores praias, as melhores mulheres" (aliás, as polonêsas são maravlhosas) e também quanto aos que dizem (b) "Brasil é uma merda, o negócio é ir pra fora". Pra mim, coisas bonitas são coisas bonitas e gente interessante é gente interessante, não interessa a classificação geográfica do território onde essas pessoas e coisas se encontram (um comentário à parte: em 2008 visitei uma amiga da Ioguslávia, mas então não existia mais Ioguslávia e ela era sérvia. Por incrível que pareça, ela era a mesma pessoa). Coisas certas e coisas erradas existem em todo ludar, aprenda a lidar com isso e aproveirar aquelas, rejeitando essas.
- Quem tem boca vai a Roma. Depois que eu (sem grana, sem mochila, sem experiência, sem idade, e sem falar a lingua) viajei pro outro lado do mundo, acho muito estranho quando alguém fala: "Poxa, até queria ver esse show mas é em São Paulo... como chegarei lá? Não tem nem google maps". Fuck off... com vontade você faz quase tudo.
- Nossas faculdades são ótimas. Assisti a algumas aulas e a uma prova junto com meu orientador, a princípio era pra ajudar ele, mas não rolou muito. E olha, nossas aulas técnicas aqui na Unicamp são muito melhores e aprendemos muito mais a fundo. Fui convidado pra um mestrado, mas não me interessava muito por vida acadêmica. Pena que aqui, apesar das aulas técnicas serem melhores, há menos interesse por coisas fora da área por parte dos alunos. Poderíamos aproveitar até mais nossa vida universitária.
- Não sou ET (acho): vi que muitos de meus hábitos e gostos, que aqui me faziam ficar meio alienado, são compartilhados por outros. Nem vou evoluir essa discussão aqui, que daria um tópico à parte, mas por exemplo:
-> o pessoal conhecia mais Sepultura e Ratos de Porão do que Pelé.
-> o pessoal não dirigia bêbado por consiência, e não por medo multas.
-> comia-se sem arroz e feijão.
-> ski tinha tanta platéia quanto futebol na hora de assistir TV
-> etc, etc, etc
Me lembro de quando voltou e falou dessa sua viagem.. muitas coisas escritas aqui, escutei várias vezes de você. Muito válidas as suas pontuações, ainda mais aquelas que se referem ao aprendizado. Ahh lembrei de uma coisa muito importante: EU ESTOU COM AS SUAS FOTOS DE LÁ, algumas delas (campos de concentração, pubs, festinhas rs) - lembra que me emprestou para eu fazer uma apresentação na faculdade (há alguns anos)?
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